Cheguei correndo até a porta do colégio porque pensava que estava atrasado para a primeira aula. Subindo as escadas, um pouco desesperado, cheguei até o penúltimo andar e logo me dirigi até a terceira sala do lado esquerdo da escada. Espiei com muito cuidado pela pequena abertura quadrada de vidro que existia no centro de quase todas as portas do andar na esperança de que a figura autoritária que gostava de me dar notas baixas e de me fazer perguntas que geralmente não sabia as respostas ou, como era geralmente chamado, o professor, não ter chegado.
Vi logo a adorável Ângela sentada na primeira cadeira da fila do centro da sala olhando para um pequeno espelho que estava em sua mão e, infelizmente, no final da mesma fila vi Ricardo. Logo vi também Tom sentado mais a esquerda da sala rabiscando alguma coisa em seu caderno e, estranhamente, não vi Karla que normalmente não se atrasava. Não vi o professor e fui logo entrando apressado e me dirigindo para a cadeira ao lado de Tom.
-Como foi o final de semana? – Perguntou Tom sem olhar para mim e ainda rabiscando em seu caderno.
-Normal, apenas tentei estudar, o de sempre. – Respondi sem empolgação.
-Perdemos mais um show da Hikari, deve ter sido incrível.
-Sim foi realmente incrível. – Respondi sem pensar e logo Tom parou de rabiscar e olhou para mim estranhando minha resposta. Tentando disfarçar continuei. – Foi o que eu ouvi falar e o que você esta rabiscando?
-Somos nós três no show dela, não ficou legal?
Tom era um bom músico, mas nem de perto um bom desenhista. Seus desenhos geralmente poderiam sem confundidos com aqueles típicos desenhos que crianças faziam para seus pais onde as pessoas eram apenas palitos com uma cabeça redonda. Não podia reclamar dos desenhos dele, pois os meus geralmente eram assim também.
Nossa conversa foi interrompida pelo professor que havia acabado de entrar na sala. Era aula de matemática, umas das poucas matérias que eu gostava, e até que as aulas do nosso professor não davam sono. Não por causa da metodologia empregada, mas por causa do professor em si.
Sempre que ele entrava na sala, geralmente correndo, antes de cumprimentar os alunos ele escrevia dois riscos em cada extremidade da lousa. Tínhamos uma teoria que ele devia ser algum tipo de robô e que se um dia fosse apagado algum dos dois riscos sem ele perceber, ele não pararia e se chocaria na parede. A aula seguia com movimentos rápidos e um pouco nervosos e, às vezes, para achar uma solução para um problema ele ficava parado olhando concentrado para a sua mão esquerda e depois continuava com a resolução.
A aula de matemática acabou e logo também a aula seguinte, que eu passei toda cochilando involuntariamente, pois algumas aulas me dão muito sono. Conseguir fazer os alunos dormirem com o som de sua voz deve ser o requisito principal para poder ser professor, é incrível a capacidade de alguns, chegando até ser mais eficiente que alguns remédios vendidos nas farmácias.
Saímos da sala para o intervalo e nem sinal de Karla. Tom e eu compramos um salgado com um pequeno copo de suco e ficamos sentados nas cadeiras próximas a cantina. Ficamos observando um pequeno grupo de quatro pessoas que estavam jogando RPG em uma das últimas mesas da cantina.
Observar pessoas jogando RPG é ótimo passatempo, é curioso ver pessoas incorporando papeis e ignorando qualquer sentimento de vergonha com tal ação. Eu nunca joguei RPG de mesa, apenas jogos do gênero. Tenho curiosidade de um dia jogar, mas de preferência em algum lugar isolado.
Logo o breve intervalo acabou e voltamos para a sala para assistir mais duas aulas intermináveis. Karla não havia chegado e provavelmente não apareceria mais. É muito difícil ela chegar atrasada em uma aula e faltar era um evento raro que, as poucas vezes que aconteceu, foram por motivos de doença. Muito diferente dos meus que geralmente são por causa de excesso de sono, não escutar o despertador, chuva, perder o ônibus, preguiça, ajudar uma velhinha a atravessar a rua e muitos outros.
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
terça-feira, 8 de dezembro de 2009
ilimitado, parte 9
Acordei com um pouco de barulho de conversas, um delicioso cheiro no ar e uma fome nunca antes sentida. Eu normalmente não sentia fome quando eu acordava, uma característica peculiar que, aparentemente, não era genética, pois minha mãe sempre acordava com fome.
O delicioso cheiro que estava no ar era, inconfundivelmente, o almoço, mas estava muito sendo para ele, ou não. Olhei para o relógio que ficava ao lado da minha cama e já marcava meio dia. Normalmente não acordava sedo, mas nunca tinha acordado na hora do almoço, provavelmente, culpa do costume de acordar cedo para as aulas.
Escovei os dentes, lavei o rosto bem rápido e foi para a cozinha. E lá estavam meus pais conversando, sorrindo e almoçando.
-Olha quem ta vivo! – Disse meu pai, com o tom brincalhão, quando me viu.
-Filho? Esta doente? Agora está com fome, não? – Disse minha mãe com um tom leve de preocupação.
Sentei-me e comecei a almoçar um prato de comida um pouco maior do que normal, sem saber se aquela quantidade de comida era por causa da fome ou gula.
Estava de bom humor e feliz com a noite anterior. Não estava preocupado com as palavras enigmáticas de Chocolate e estava com muita vontade de contar o que aconteceu, então disse em um tom animado:
-Tive um sonho muito bom essa noite. Não lembro todos os detalhes, claro, mas foi incrível.
-Sonho muito bom? Envolvia garotas, strip-tease e coisas assim? – Falou meu pai com um sorriso no rosto, enquanto levava um cutucão de repreensão da minha mãe.
-Não pai. Sonhei que eu estava em outro país assistindo o show de uma cantora que eu gosto.
-Outro país? Já sei qual é! Não sei como você gosta de uma música que você não entende. – Falou com um tom leve de repreensão.
-Você não gosta das músicas que passam na rádio e que você também não entende? – Rebati firmemente.
-Poucas, muito poucas. Mas isso é diferente... – Parou sem completar a frase e, mudando de assunto, continuou – Está estudando? – Disse seriamente.
-Sim pai, claro. – Falei automaticamente.
Já estávamos terminando de almoçar e minha mãe retirou da geladeira uma deliciosa sobremesa de chocolate. Era normal de vez em quando ela fazer aquele tipo de sobremesa e mais comum ainda ela tentar modificar algo na receita para tentar fazer ela melhor. Desta vez, percebi que ela tinha colocado raspas de biscoito dentro e devo admitir que ficou muito bom.
Depois de almoçar fui descansar um pouco. Encher a barriga me dá sono, mas por causa da pergunta de meu pai, passei o resto do final de semana estudando. Acho que já tive aventura de mais por um final de semana e segunda terei aula normal. Se é que isso é possível agora.
O delicioso cheiro que estava no ar era, inconfundivelmente, o almoço, mas estava muito sendo para ele, ou não. Olhei para o relógio que ficava ao lado da minha cama e já marcava meio dia. Normalmente não acordava sedo, mas nunca tinha acordado na hora do almoço, provavelmente, culpa do costume de acordar cedo para as aulas.
Escovei os dentes, lavei o rosto bem rápido e foi para a cozinha. E lá estavam meus pais conversando, sorrindo e almoçando.
-Olha quem ta vivo! – Disse meu pai, com o tom brincalhão, quando me viu.
-Filho? Esta doente? Agora está com fome, não? – Disse minha mãe com um tom leve de preocupação.
Sentei-me e comecei a almoçar um prato de comida um pouco maior do que normal, sem saber se aquela quantidade de comida era por causa da fome ou gula.
Estava de bom humor e feliz com a noite anterior. Não estava preocupado com as palavras enigmáticas de Chocolate e estava com muita vontade de contar o que aconteceu, então disse em um tom animado:
-Tive um sonho muito bom essa noite. Não lembro todos os detalhes, claro, mas foi incrível.
-Sonho muito bom? Envolvia garotas, strip-tease e coisas assim? – Falou meu pai com um sorriso no rosto, enquanto levava um cutucão de repreensão da minha mãe.
-Não pai. Sonhei que eu estava em outro país assistindo o show de uma cantora que eu gosto.
-Outro país? Já sei qual é! Não sei como você gosta de uma música que você não entende. – Falou com um tom leve de repreensão.
-Você não gosta das músicas que passam na rádio e que você também não entende? – Rebati firmemente.
-Poucas, muito poucas. Mas isso é diferente... – Parou sem completar a frase e, mudando de assunto, continuou – Está estudando? – Disse seriamente.
-Sim pai, claro. – Falei automaticamente.
Já estávamos terminando de almoçar e minha mãe retirou da geladeira uma deliciosa sobremesa de chocolate. Era normal de vez em quando ela fazer aquele tipo de sobremesa e mais comum ainda ela tentar modificar algo na receita para tentar fazer ela melhor. Desta vez, percebi que ela tinha colocado raspas de biscoito dentro e devo admitir que ficou muito bom.
Depois de almoçar fui descansar um pouco. Encher a barriga me dá sono, mas por causa da pergunta de meu pai, passei o resto do final de semana estudando. Acho que já tive aventura de mais por um final de semana e segunda terei aula normal. Se é que isso é possível agora.
segunda-feira, 3 de agosto de 2009
ilimitado, parte 8
Estava muito ansioso para chegar em casa. Inventei a desculpa que estava cansado e que queria ir para casa. Todos concordaram em ir e fomos pegar o ônibus.
O ônibus estava um pouco cheio, mas consegui me sentar depois da metade do caminho até minha casa. Comecei a olhar pela janela e pensar sobre o que estava acontecendo comigo, mas minha atenção logo se voltou ao refrão de uma música que estava sendo tocada no rádio do ônibus. Comecei a cantar baixo o refrão que dizia: “gira e volta uma volta e meia, e gira todo dia meia volta”. Não conseguia entender muito bem o significado do refrão e, aparentemente, o motorista também não, pois logo mudou a estação, parando em uma que mais o agradava.
O ônibus é um lugar um pouco especial para mim, pois meus pais me contaram que foi nele que eles se conheceram. Aparentemente, meus pais usavam a mesma linha de ônibus por um bom tempo para irem para o colégio, mas nunca haviam pegado o mesmo ônibus. No último ano no colégio finalmente aconteceu à coincidência deles se encontrarem e, como dizem, foi amor a primeira vista.
Cheguei em casa um pouco cansado realmente, minha casa ficava alguns quarteirões de onde o ônibus me deixava.
Entrando pela porta me deparei, como de costume, com o porta-retrato com a foto de minha família que foi tirada há alguns anos na praia. Lá estávamos nós três sorrindo deitados na areia úmida e um pouco preocupados se a câmera iria molhar.
Entrando na cozinha encontrei minha mãe que estava terminando de fazer algumas trufas de chocolate. Além da trufa ela aprendeu recentemente a fazer um delicioso bolo de chocolate com alguma de suas amigas.
-Ainda hoje você vai comer alguns, filho. – Disse ela sorrindo e com um tom de voz carinhoso que só uma mãe consegue fazer para seu filho.
-Certo mãe, mas provavelmente vou só comer alguma coisa e dormir, estou muito cansado. – Disse tentando expressar um cansaço maior do que eu sentia.
-E o papai? – Perguntei em seguida.
-Ainda no trabalho, mas deve já estar chegando. E a competição como foi?
-Terceiro lugar. – Falei um pouco desanimado.
-Nossa! Parabéns! – Falou ela com um tom animado. Provavelmente não estava querendo me animar e sim sendo sincera.
Sorri para ela e sai para tomar banho. Voltando, fui para a cozinha procurar algo para comer e minha mãe já tinha feito dois sanduíches para mim.
Agradeci e foi comer em frente a TV. Deixei no canal que estava, era um jornal, e me concentrei em comer mais rápido do que de costume. Era uma notícia sobre algum confronto entre manifestantes e policiais em algum país. Antigamente não assistia jornal, preferia um filme, e ainda prefiro, mas comecei a assistir algumas vezes neste ano porque me disseram que era importante para o vestibular.
Acabei de comer, fui avisar para a minha mãe que já ia dormir e fui em direção ao meu quarto. Nossos quartos ficavam em um pequeno corredor formado pela parede deles e pela parede que ficava na sala. Passei pela primeira porta, que era a porta do quarto dos meus pais, e cheguei à minha. Antes de entrar, olhei para a terceira e última porta que ficava no final do corredor. Era o quarto onde meu pai tinha sua mini biblioteca particular.
Às vezes me deparo com a idéia de como seria bom ter um irmãozinho. Não só alguém que eu pudesse perturbar e culpar quando eu quebrasse alguma coisa, mas alguém que eu pudesse sempre contar e me divertir. Ainda tenho esperança, mas acho pouco provável os meus pais quererem ter outro filho. Bebês devem dar muito trabalho. Lembrando dessa idéia e olhando para o quarto, fico imaginando que lá seria o quarto do meu, não provável, irmãozinho.
Entrei no meu quarto e fui me deitar. Não estava com sono e nem havia intenção de dormir naquele momento, o que iria fazer era testar a idéia que eu tive.
Fechei os meus olhos e me concentrei. Uma maneira de estar onde não seria possível, de ver o que está acontecendo sem realmente estar no lugar. Comecei a não sentir mais meus pés e minhas mãos, a escuridão que estava vendo estava estranhamente começando a desaparecer e, quando percebi, estava em pé em frente a minha cama e podia me ver deitado de olhos fechados.
Podia movimentar meus pés e meus braços, mas não conseguia sair do lugar. Também não conseguia sentir e nem segurar o relógio que estava ao meu alcance perto de onde eu dormia. Percebia claramente que não estava morto, pois podia me ver respirando e mexendo os olhos de vez em quando.
Sentei-me para pensar um pouco e tentar achar uma solução de como conseguiria me movimentar. Alguns minutos depois vi minha mãe, com uma trufa na mão, indo no meu quarto verificar se eu estava realmente dormindo. Chamou meu nome bem baixo e, como não respondi, saiu do meu quarto um pouco decepcionada. Aparentemente, além de não poder pegar objetos, também não podia ser visto.
Apareci na cozinha. Simplesmente estava agora sentado no chão da cozinha onde minha mãe continuava a fazer trufas. Eu apenas quis estar na cozinha para ver se ela ainda estava decepcionada e apareci lá.
Levantei-me e agora estava de volta ao meu quarto, depois na sala, depois na parada de ônibus perto de casa e depois de volta para o meu quarto. Eu não me movimentava com meus pés e sim com o meu desejo.
Não sabia exatamente onde eu gostaria de estar, mas agora estava em um grande cruzamento onde uma multidão passava de um lado para outro tentando chegar aos seus destinos. Estava exatamente no lugar que eu havia visto em uma foto que achei quando procurava informações sobre Hikari. Estava em sua cidade natal, lugar que possuía prédios enormes com grandes telas de TV que passavam propaganda e que havia uma grande multidão de pessoas em todas as quatro esquinas que via.
Era estranha, e um pouco desconfortável, ter por diversas vezes pessoas passando por mim, sem me ver e sem me tocar. Não podia sentir cheiros e nem o vento passar. Mesmo no meio de tantas pessoas comecei a me sentir só.
Não sabia como chegar ao show, não podia pedir informações e não entendia a maioria das informações escritas que encontrava. Fui “pulando” de prédio em prédio até chegar ao mais auto para tentar ver alguma luz que indicasse um show. Não encontrei, mas algo que estava passando na TV chamou minha atenção.
Era uma espécie de jornal que estava passando várias notícias bem rápidas e em um deles apareceu um repórter que estava no show que eu tanto procurava. Fui imediatamente para o lugar e apareci no meio de uma enorme multidão.
Tentei prestar atenção e assistir o show, mas ficava muito incomodado quando as pessoas me atravessavam. Fiquei procurando um lugar para apreciar o show e vi uma estrutura para controle do som do show no meio da multidão e achei o lugar ideal para mim.
Fiquei sentado no teto da estrutura. Era incrível estar lá, se a música da Hikari já me passava algo quando escutava em um CD, ao vivo ela passava um enorme sentimento que fazia eu me arrepiar. Qualquer sentimento de solidão havia sumido e estava sentindo uma mistura de paz e felicidade.
-Esta gostando do show? – Disse-me uma voz um pouco familiar.
Olhei assustado para o meu lado direito e lá estava Chocolate sentado de um jeito descontraído como se aquela situação fosse algo bastante normal para ele.
-Chocolate? Você pode me ver? – Perguntei gritando por causa do som do show.
-Claro e, por favor, não grite, você acha realmente que você esta usando sua boca e eu meus ouvidos? – Disse ele de uma forma calma.
Ignorando sua resposta tentei perguntar algo, mas logo ele continuou:
-Você está aprendendo rápido, esse eu demorei um pouco para descobrir como fazer.
-Como eu sei fazer isso? – Disse agora em um tom normal.
-O que você esta usando é o que nós chamamos de instinto, mas nem tudo você irá conseguir fazer por instinto. Ele age muito na sorte ou pressão.
E olhando para o show de uma forma diferente disse:
-Não entendo por que ela continua fazendo isso, mas não é um bom sinal ela estar aqui.
-Você conhece a Hikari?
-É assim que vocês a chamam aqui? “O ilimitado que decidiu cantar” foi o título que ela recebeu.
-Ilimitado? Quer dizer que ela...? – Falei admirado, mas não completei a frase para que ele continuasse.
-Ela costuma aparecer em mundos que estão ou irão passar por grandes dificuldades, tentando trazer um pouco de sanidade e esperança a esses mundos.
-Grandes dificuldades? Como assim?
-Algo entre grandes guerras e uma destruição completa. – Disse ele de uma forma calma e natural.
Olhei para ele admirado, mas fiquei com receio de continuar perguntando. Depois de um tempo calados em que apreciávamos o show ele se despediu e sumiu, e eu fiquei aproveitando o final do show enquanto o sol aparecia ao longe.
O ônibus estava um pouco cheio, mas consegui me sentar depois da metade do caminho até minha casa. Comecei a olhar pela janela e pensar sobre o que estava acontecendo comigo, mas minha atenção logo se voltou ao refrão de uma música que estava sendo tocada no rádio do ônibus. Comecei a cantar baixo o refrão que dizia: “gira e volta uma volta e meia, e gira todo dia meia volta”. Não conseguia entender muito bem o significado do refrão e, aparentemente, o motorista também não, pois logo mudou a estação, parando em uma que mais o agradava.
O ônibus é um lugar um pouco especial para mim, pois meus pais me contaram que foi nele que eles se conheceram. Aparentemente, meus pais usavam a mesma linha de ônibus por um bom tempo para irem para o colégio, mas nunca haviam pegado o mesmo ônibus. No último ano no colégio finalmente aconteceu à coincidência deles se encontrarem e, como dizem, foi amor a primeira vista.
Cheguei em casa um pouco cansado realmente, minha casa ficava alguns quarteirões de onde o ônibus me deixava.
Entrando pela porta me deparei, como de costume, com o porta-retrato com a foto de minha família que foi tirada há alguns anos na praia. Lá estávamos nós três sorrindo deitados na areia úmida e um pouco preocupados se a câmera iria molhar.
Entrando na cozinha encontrei minha mãe que estava terminando de fazer algumas trufas de chocolate. Além da trufa ela aprendeu recentemente a fazer um delicioso bolo de chocolate com alguma de suas amigas.
-Ainda hoje você vai comer alguns, filho. – Disse ela sorrindo e com um tom de voz carinhoso que só uma mãe consegue fazer para seu filho.
-Certo mãe, mas provavelmente vou só comer alguma coisa e dormir, estou muito cansado. – Disse tentando expressar um cansaço maior do que eu sentia.
-E o papai? – Perguntei em seguida.
-Ainda no trabalho, mas deve já estar chegando. E a competição como foi?
-Terceiro lugar. – Falei um pouco desanimado.
-Nossa! Parabéns! – Falou ela com um tom animado. Provavelmente não estava querendo me animar e sim sendo sincera.
Sorri para ela e sai para tomar banho. Voltando, fui para a cozinha procurar algo para comer e minha mãe já tinha feito dois sanduíches para mim.
Agradeci e foi comer em frente a TV. Deixei no canal que estava, era um jornal, e me concentrei em comer mais rápido do que de costume. Era uma notícia sobre algum confronto entre manifestantes e policiais em algum país. Antigamente não assistia jornal, preferia um filme, e ainda prefiro, mas comecei a assistir algumas vezes neste ano porque me disseram que era importante para o vestibular.
Acabei de comer, fui avisar para a minha mãe que já ia dormir e fui em direção ao meu quarto. Nossos quartos ficavam em um pequeno corredor formado pela parede deles e pela parede que ficava na sala. Passei pela primeira porta, que era a porta do quarto dos meus pais, e cheguei à minha. Antes de entrar, olhei para a terceira e última porta que ficava no final do corredor. Era o quarto onde meu pai tinha sua mini biblioteca particular.
Às vezes me deparo com a idéia de como seria bom ter um irmãozinho. Não só alguém que eu pudesse perturbar e culpar quando eu quebrasse alguma coisa, mas alguém que eu pudesse sempre contar e me divertir. Ainda tenho esperança, mas acho pouco provável os meus pais quererem ter outro filho. Bebês devem dar muito trabalho. Lembrando dessa idéia e olhando para o quarto, fico imaginando que lá seria o quarto do meu, não provável, irmãozinho.
Entrei no meu quarto e fui me deitar. Não estava com sono e nem havia intenção de dormir naquele momento, o que iria fazer era testar a idéia que eu tive.
Fechei os meus olhos e me concentrei. Uma maneira de estar onde não seria possível, de ver o que está acontecendo sem realmente estar no lugar. Comecei a não sentir mais meus pés e minhas mãos, a escuridão que estava vendo estava estranhamente começando a desaparecer e, quando percebi, estava em pé em frente a minha cama e podia me ver deitado de olhos fechados.
Podia movimentar meus pés e meus braços, mas não conseguia sair do lugar. Também não conseguia sentir e nem segurar o relógio que estava ao meu alcance perto de onde eu dormia. Percebia claramente que não estava morto, pois podia me ver respirando e mexendo os olhos de vez em quando.
Sentei-me para pensar um pouco e tentar achar uma solução de como conseguiria me movimentar. Alguns minutos depois vi minha mãe, com uma trufa na mão, indo no meu quarto verificar se eu estava realmente dormindo. Chamou meu nome bem baixo e, como não respondi, saiu do meu quarto um pouco decepcionada. Aparentemente, além de não poder pegar objetos, também não podia ser visto.
Apareci na cozinha. Simplesmente estava agora sentado no chão da cozinha onde minha mãe continuava a fazer trufas. Eu apenas quis estar na cozinha para ver se ela ainda estava decepcionada e apareci lá.
Levantei-me e agora estava de volta ao meu quarto, depois na sala, depois na parada de ônibus perto de casa e depois de volta para o meu quarto. Eu não me movimentava com meus pés e sim com o meu desejo.
Não sabia exatamente onde eu gostaria de estar, mas agora estava em um grande cruzamento onde uma multidão passava de um lado para outro tentando chegar aos seus destinos. Estava exatamente no lugar que eu havia visto em uma foto que achei quando procurava informações sobre Hikari. Estava em sua cidade natal, lugar que possuía prédios enormes com grandes telas de TV que passavam propaganda e que havia uma grande multidão de pessoas em todas as quatro esquinas que via.
Era estranha, e um pouco desconfortável, ter por diversas vezes pessoas passando por mim, sem me ver e sem me tocar. Não podia sentir cheiros e nem o vento passar. Mesmo no meio de tantas pessoas comecei a me sentir só.
Não sabia como chegar ao show, não podia pedir informações e não entendia a maioria das informações escritas que encontrava. Fui “pulando” de prédio em prédio até chegar ao mais auto para tentar ver alguma luz que indicasse um show. Não encontrei, mas algo que estava passando na TV chamou minha atenção.
Era uma espécie de jornal que estava passando várias notícias bem rápidas e em um deles apareceu um repórter que estava no show que eu tanto procurava. Fui imediatamente para o lugar e apareci no meio de uma enorme multidão.
Tentei prestar atenção e assistir o show, mas ficava muito incomodado quando as pessoas me atravessavam. Fiquei procurando um lugar para apreciar o show e vi uma estrutura para controle do som do show no meio da multidão e achei o lugar ideal para mim.
Fiquei sentado no teto da estrutura. Era incrível estar lá, se a música da Hikari já me passava algo quando escutava em um CD, ao vivo ela passava um enorme sentimento que fazia eu me arrepiar. Qualquer sentimento de solidão havia sumido e estava sentindo uma mistura de paz e felicidade.
-Esta gostando do show? – Disse-me uma voz um pouco familiar.
Olhei assustado para o meu lado direito e lá estava Chocolate sentado de um jeito descontraído como se aquela situação fosse algo bastante normal para ele.
-Chocolate? Você pode me ver? – Perguntei gritando por causa do som do show.
-Claro e, por favor, não grite, você acha realmente que você esta usando sua boca e eu meus ouvidos? – Disse ele de uma forma calma.
Ignorando sua resposta tentei perguntar algo, mas logo ele continuou:
-Você está aprendendo rápido, esse eu demorei um pouco para descobrir como fazer.
-Como eu sei fazer isso? – Disse agora em um tom normal.
-O que você esta usando é o que nós chamamos de instinto, mas nem tudo você irá conseguir fazer por instinto. Ele age muito na sorte ou pressão.
E olhando para o show de uma forma diferente disse:
-Não entendo por que ela continua fazendo isso, mas não é um bom sinal ela estar aqui.
-Você conhece a Hikari?
-É assim que vocês a chamam aqui? “O ilimitado que decidiu cantar” foi o título que ela recebeu.
-Ilimitado? Quer dizer que ela...? – Falei admirado, mas não completei a frase para que ele continuasse.
-Ela costuma aparecer em mundos que estão ou irão passar por grandes dificuldades, tentando trazer um pouco de sanidade e esperança a esses mundos.
-Grandes dificuldades? Como assim?
-Algo entre grandes guerras e uma destruição completa. – Disse ele de uma forma calma e natural.
Olhei para ele admirado, mas fiquei com receio de continuar perguntando. Depois de um tempo calados em que apreciávamos o show ele se despediu e sumiu, e eu fiquei aproveitando o final do show enquanto o sol aparecia ao longe.
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sexta-feira, 17 de abril de 2009
ilimitado, parte 7
Chegamos ao shopping. Concordamos que deveríamos comer, mas não sobre o que. Karla preferiu comida chinesa, enquanto Tom foi atrás de uma pizza e eu fui comprar um sanduíche simples que já estava pronto antes de eu chegar. Deve ser por isso que chamam de fast food, não?
Graças ao sanduíche, cheguei primeiro a mesa e enquanto comia, bem devagar, tentava imaginava como poderia saber o que pensava a mulher, impaciente, que estava a três mesas de distância.
Como se cada mente fosse um rádio e a única coisa que precisava fazer fosse sintonizar na estação certa com o limite de alguns metros de recepção.
“Onde será que ele está? Todo esse tempo para levar ele ao banheiro?”
Estava funcionando. Sabia exatamente como fazer, mas não compreendia como eu sabia.
Logo a mulher mudou de expressão quando um homem que andava junto com uma criança se aproximava dela. Sorrisos, um beijo e o homem, provavelmente seu marido, me percebeu. Desviei o olhar imediatamente, ele deve ter percebido minha muita atenção a sua mulher. Provavelmente eu devia estar fazendo alguma careta de concentração, mas, mesmo assim, continuei observando outras pessoas ao meu redor.
Uma mulher que brincava com um bebê.
“Olha que sorriso bonito.”
O atendente de uma loja que vendia roupas.
“O dia está acabando, ainda bem que este é o meu último dia aqui!”
Um casal de namorados que se beijavam.
“Será que ele vai embora logo?”
Um homem que olhava para mim.
“Que gatinho.”
Arrepiei-me, acho que nem sempre é bom saber o que as outras pessoas pensão.
Karla já estava chegando com seu macarrão que acompanhava outras comidas que eu não sabia o nome e, logo atrás, vinha Tom com uma pizza bastante recheada que exalava um cheiro muito bom.
Ficamos conversando sobre diversos assuntos, achei melhor pular a parte sobre ler pensamentos e um estranho homem chamado Chocolate, e começamos a conversar sobre a competição e nossa colocação. Tiramos terceiro lugar, mas concluímos que foi bem melhor do que o quarto no ano passado. Continuando a conversa, Karla, decepcionada, disse:
-Nossa última competição de grupo, esperava pelo menos uma vez tirar primeiro, mas agora é tarde.
-Talvez tenha algo do tipo na faculdade, não? – Disse Tom para tentar animá-la.
Última competição? Karla me lembrou como era importante aquele ano, o ano do vestibular. Claro que não estava me esquecendo dele, mas não tinha pensado por este ângulo. Provavelmente não precisarei me preocupar em competir com Ricardo, mas será que continuarei vendo Ângela? Comecei a ficar triste, mas ela foi logo interrompida pelo entusiasmo de Karla:
-Olhem! Vamos? – Disse Karla apontando para uma máquina colorida que me parecia familiar.
Acho que virou um tipo de tradição. Pelo menos uma vez por ano nós batíamos uma foto nessas maquinas. Karla gostava de escolher a moldura da foto e, desta vez, ela escolheu uma com um troféu de primeiro lugar.
-Pelo menos na foto conseguimos. – Disse Karla com um sorriso no rosto.
Dividimos as pequenas fotos adesivas, como de costume, e fomos andar pelo shopping sem destino certo. Passando por vitrines e vitrines, visualizamos, ao longe, o lugar de jogos eletrônicos e, sem pensar duas vezes, fomos em direção a ele.
No local, Tom e eu passamos indiferentes por uma máquina colorida cheia de bichos de pelúcia, mas Karla parou diante dela. Era uma máquina que possuía uma garra de metal que as pessoas usavam para tentar agarrar um bicho de pelúcia. A pessoa só ganhava o brinquedo caso ele ficasse preso pela garra até uma abertura circula na extremidade da máquina.
Ela ficou olhando para os bichos com um ar de esperança e disse:
-Nunca consigo ganhar um bicho de pelúcia nestas máquinas, será que hoje vai ser diferente? - Disse Karla com uma voz triste, mas que demonstrava um pouco de esperança.
Não era a primeira vez que via Karla tentar conseguir um bicho de pelúcia naquela máquina. Ela mais uma vez tentou, agarrou o bicho, o elevou e, na metade do caminho, ele caiu. Vi a decepção em seu rosto e queria poder ajudá-la de algum modo.
Se eu pudesse sustentar o bicho de pelúcia como se minha mão estivesse embaixo dele, poderia impedir que ele caísse. Do mesmo modo que eu sabia como ler pensamentos, sabia agora como poderia fazer isso. Era estranha a sensação de, simplesmente, saber algo que eu nunca tinha aprendido. Como se sempre solvesse como fazer, apenas tivesse esquecido.
Karla estava desanimada e não parecia que iria tentar novamente, então disse para tentar incentivá-la:
-Não vai tentar de novo? Você pode ter sorte na segunda vez.
Karla olhou para mim ainda desanimada, deu um sorriso e, sem muita esperança, aceitou minha sugestão e tentou novamente.
Karla tentou pegar uma girafa e quando ela a elevou eu comecei a me concentrar, mas tentando não demonstrar com algum tipo de careta.
Ela não podia acreditar que finalmente tinha conseguido. Deu pulos de felicidade e abraçou, bem forte, eu e Tom ao mesmo tempo.
-Vamos continuar andando? Queria olhar alguns CDs de música – Disse Tom olhando para uma loja que estava próxima.
-Não! – Disse Karla enérgica – Agora tenho que aproveitar minha sorte e tentar de novo.
-De novo? – Eu disse com uma voz um pouco desanimada.
Karla tentou pegar agora um elefante azul e eu a ajudei novamente. Ela ficou muito impressionada com a sorte que estava tendo e tentou novamente. Pegando, com sucesso, um leão.
Fiquei pensando quando ela iria parar e se eu devia continuar ajudando. Quando ela se preparava para tentar pegar um hipopótamo roxo para aumentar o zoológico, dois homens a impediram.
-Esta máquina está com problemas e vai ser interditada agora. – Disse seriamente o homem que devia trabalhar no shopping.
Karla até tentou protestar, mas não obteve sucesso. Ela logo desistiu do protesto, pois já estava bastante feliz com seus animais coloridos e, aceitando a sugestão de Tom, nos chamou para ir à loja de CDs.
Antes de ir embora escutei de um dos homens:
“Impossível, ela esta programada para uma pessoa ter chance a cada quinze tentativas.”
Chegamos à loja favorita de Tom, a loja de CDs de música. Ele gostava muito de música, sabia tocar violão e estava aprendendo a tocar piano. Sempre quis aprender a tocar algum instrumento, mas, até hoje, só aprendi algumas poucas notas de violão que Tom me ensinou.
Foi Tom que me apresentou a nossa cantora favorita, Hikari. Curiosamente não entendíamos o que ela cantava, mas procurávamos traduções de suas músicas na internet. O verdadeiro motivo para gostarmos de suas músicas era o sentimento que ela conseguia passar, como se sua música fosse capas de tocar em nosso espírito.
Ficamos perambulando pela loja, escutando algumas músicas e decidindo se compraríamos algo ou não. Fiquei conversando com Tom sobre como seria legal ir a um show da Hikari e como era praticamente impossível ela vir fazer um show na nossa cidade.
Tom decidiu comprar o nome CD da Hikari, eu gostaria de ter comprado também, mas não tinha dinheiro suficiente no momento. Não comprei o CD, mas tinha certeza que o meu grande amigo Tom me emprestaria quando acabasse de escutar umas dez vezes ele.
Karla já nos esperava impacientemente na porta da loja, ela não havia encontrado nada que gostasse e nos chamava para ir embora. Já estávamos passando pela porta quando um estranho cartaz nos chamou a atenção.
Não entendíamos tudo que estava escrito no cartaz, mas entendemos que Hikari iria fazer um show hoje. Procuramos informações mais atentamente pelo cartaz e descobrimos que o show seria na sua cidade natal para comemorar dez anos de sua carreira.
Ficamos maravilhados com a notícia, mas, logo depois, percebemos que não poderíamos ir ao show porque era em outro país. Ficamos parados olhando para o cartaz e imaginando como seria. Ficaríamos satisfeitos se pudéssemos assistir ao seu show na televisão ou qualquer outra forma não presencial, o importante era sentir como seria ir a um show dela ao vivo.
Então, como antes, me ocorreu uma idéia. Não uma simples idéia, mas uma idéia que, provavelmente, apenas eu poderia ter. Fiquei muito empolgado com ela e estava com muita vontade de chegar em casa para testá-la.
-Por que esse sorriso no rosto? – Perguntou Tom desconfiado.
-Por nada, apenas sonhando acordado – Disse tentando disfarçar.
Graças ao sanduíche, cheguei primeiro a mesa e enquanto comia, bem devagar, tentava imaginava como poderia saber o que pensava a mulher, impaciente, que estava a três mesas de distância.
Como se cada mente fosse um rádio e a única coisa que precisava fazer fosse sintonizar na estação certa com o limite de alguns metros de recepção.
“Onde será que ele está? Todo esse tempo para levar ele ao banheiro?”
Estava funcionando. Sabia exatamente como fazer, mas não compreendia como eu sabia.
Logo a mulher mudou de expressão quando um homem que andava junto com uma criança se aproximava dela. Sorrisos, um beijo e o homem, provavelmente seu marido, me percebeu. Desviei o olhar imediatamente, ele deve ter percebido minha muita atenção a sua mulher. Provavelmente eu devia estar fazendo alguma careta de concentração, mas, mesmo assim, continuei observando outras pessoas ao meu redor.
Uma mulher que brincava com um bebê.
“Olha que sorriso bonito.”
O atendente de uma loja que vendia roupas.
“O dia está acabando, ainda bem que este é o meu último dia aqui!”
Um casal de namorados que se beijavam.
“Será que ele vai embora logo?”
Um homem que olhava para mim.
“Que gatinho.”
Arrepiei-me, acho que nem sempre é bom saber o que as outras pessoas pensão.
Karla já estava chegando com seu macarrão que acompanhava outras comidas que eu não sabia o nome e, logo atrás, vinha Tom com uma pizza bastante recheada que exalava um cheiro muito bom.
Ficamos conversando sobre diversos assuntos, achei melhor pular a parte sobre ler pensamentos e um estranho homem chamado Chocolate, e começamos a conversar sobre a competição e nossa colocação. Tiramos terceiro lugar, mas concluímos que foi bem melhor do que o quarto no ano passado. Continuando a conversa, Karla, decepcionada, disse:
-Nossa última competição de grupo, esperava pelo menos uma vez tirar primeiro, mas agora é tarde.
-Talvez tenha algo do tipo na faculdade, não? – Disse Tom para tentar animá-la.
Última competição? Karla me lembrou como era importante aquele ano, o ano do vestibular. Claro que não estava me esquecendo dele, mas não tinha pensado por este ângulo. Provavelmente não precisarei me preocupar em competir com Ricardo, mas será que continuarei vendo Ângela? Comecei a ficar triste, mas ela foi logo interrompida pelo entusiasmo de Karla:
-Olhem! Vamos? – Disse Karla apontando para uma máquina colorida que me parecia familiar.
Acho que virou um tipo de tradição. Pelo menos uma vez por ano nós batíamos uma foto nessas maquinas. Karla gostava de escolher a moldura da foto e, desta vez, ela escolheu uma com um troféu de primeiro lugar.
-Pelo menos na foto conseguimos. – Disse Karla com um sorriso no rosto.
Dividimos as pequenas fotos adesivas, como de costume, e fomos andar pelo shopping sem destino certo. Passando por vitrines e vitrines, visualizamos, ao longe, o lugar de jogos eletrônicos e, sem pensar duas vezes, fomos em direção a ele.
No local, Tom e eu passamos indiferentes por uma máquina colorida cheia de bichos de pelúcia, mas Karla parou diante dela. Era uma máquina que possuía uma garra de metal que as pessoas usavam para tentar agarrar um bicho de pelúcia. A pessoa só ganhava o brinquedo caso ele ficasse preso pela garra até uma abertura circula na extremidade da máquina.
Ela ficou olhando para os bichos com um ar de esperança e disse:
-Nunca consigo ganhar um bicho de pelúcia nestas máquinas, será que hoje vai ser diferente? - Disse Karla com uma voz triste, mas que demonstrava um pouco de esperança.
Não era a primeira vez que via Karla tentar conseguir um bicho de pelúcia naquela máquina. Ela mais uma vez tentou, agarrou o bicho, o elevou e, na metade do caminho, ele caiu. Vi a decepção em seu rosto e queria poder ajudá-la de algum modo.
Se eu pudesse sustentar o bicho de pelúcia como se minha mão estivesse embaixo dele, poderia impedir que ele caísse. Do mesmo modo que eu sabia como ler pensamentos, sabia agora como poderia fazer isso. Era estranha a sensação de, simplesmente, saber algo que eu nunca tinha aprendido. Como se sempre solvesse como fazer, apenas tivesse esquecido.
Karla estava desanimada e não parecia que iria tentar novamente, então disse para tentar incentivá-la:
-Não vai tentar de novo? Você pode ter sorte na segunda vez.
Karla olhou para mim ainda desanimada, deu um sorriso e, sem muita esperança, aceitou minha sugestão e tentou novamente.
Karla tentou pegar uma girafa e quando ela a elevou eu comecei a me concentrar, mas tentando não demonstrar com algum tipo de careta.
Ela não podia acreditar que finalmente tinha conseguido. Deu pulos de felicidade e abraçou, bem forte, eu e Tom ao mesmo tempo.
-Vamos continuar andando? Queria olhar alguns CDs de música – Disse Tom olhando para uma loja que estava próxima.
-Não! – Disse Karla enérgica – Agora tenho que aproveitar minha sorte e tentar de novo.
-De novo? – Eu disse com uma voz um pouco desanimada.
Karla tentou pegar agora um elefante azul e eu a ajudei novamente. Ela ficou muito impressionada com a sorte que estava tendo e tentou novamente. Pegando, com sucesso, um leão.
Fiquei pensando quando ela iria parar e se eu devia continuar ajudando. Quando ela se preparava para tentar pegar um hipopótamo roxo para aumentar o zoológico, dois homens a impediram.
-Esta máquina está com problemas e vai ser interditada agora. – Disse seriamente o homem que devia trabalhar no shopping.
Karla até tentou protestar, mas não obteve sucesso. Ela logo desistiu do protesto, pois já estava bastante feliz com seus animais coloridos e, aceitando a sugestão de Tom, nos chamou para ir à loja de CDs.
Antes de ir embora escutei de um dos homens:
“Impossível, ela esta programada para uma pessoa ter chance a cada quinze tentativas.”
Chegamos à loja favorita de Tom, a loja de CDs de música. Ele gostava muito de música, sabia tocar violão e estava aprendendo a tocar piano. Sempre quis aprender a tocar algum instrumento, mas, até hoje, só aprendi algumas poucas notas de violão que Tom me ensinou.
Foi Tom que me apresentou a nossa cantora favorita, Hikari. Curiosamente não entendíamos o que ela cantava, mas procurávamos traduções de suas músicas na internet. O verdadeiro motivo para gostarmos de suas músicas era o sentimento que ela conseguia passar, como se sua música fosse capas de tocar em nosso espírito.
Ficamos perambulando pela loja, escutando algumas músicas e decidindo se compraríamos algo ou não. Fiquei conversando com Tom sobre como seria legal ir a um show da Hikari e como era praticamente impossível ela vir fazer um show na nossa cidade.
Tom decidiu comprar o nome CD da Hikari, eu gostaria de ter comprado também, mas não tinha dinheiro suficiente no momento. Não comprei o CD, mas tinha certeza que o meu grande amigo Tom me emprestaria quando acabasse de escutar umas dez vezes ele.
Karla já nos esperava impacientemente na porta da loja, ela não havia encontrado nada que gostasse e nos chamava para ir embora. Já estávamos passando pela porta quando um estranho cartaz nos chamou a atenção.
Não entendíamos tudo que estava escrito no cartaz, mas entendemos que Hikari iria fazer um show hoje. Procuramos informações mais atentamente pelo cartaz e descobrimos que o show seria na sua cidade natal para comemorar dez anos de sua carreira.
Ficamos maravilhados com a notícia, mas, logo depois, percebemos que não poderíamos ir ao show porque era em outro país. Ficamos parados olhando para o cartaz e imaginando como seria. Ficaríamos satisfeitos se pudéssemos assistir ao seu show na televisão ou qualquer outra forma não presencial, o importante era sentir como seria ir a um show dela ao vivo.
Então, como antes, me ocorreu uma idéia. Não uma simples idéia, mas uma idéia que, provavelmente, apenas eu poderia ter. Fiquei muito empolgado com ela e estava com muita vontade de chegar em casa para testá-la.
-Por que esse sorriso no rosto? – Perguntou Tom desconfiado.
-Por nada, apenas sonhando acordado – Disse tentando disfarçar.
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sábado, 11 de abril de 2009
Crítica: Dragonball Evolution
Sim, mas uma vez não vou postar uma história e sim falar deste filme que assisti hoje. Será que isso vai tornar-se uma tradição?
Dragonball Evolution é o filme que todos me diziam que era ruim, mas que eu tinha que ver com os meus próprios olhos, pois achava que não poderia ser tão ruim assim. E no final, o filme realmente era ruim, mas não pelos motivos que as pessoas, que não assistiram, achavam.
Não é pelas mudanças comparando com o original, nem pelo diretor, nem os efeitos especiais e nem pelos atores. O principal problema de Dragonball Evolution é seu roteiro.
Não reclamo de nem uma mudança que o filme tenha em relação à Dragon Ball, mas o roteiro forçado e sem um devido cuidado deixo Piccolo agindo como Dark Vader e sem fazer muita coisa no decorrer do filme. As incríveis e longas lutas de Dragon Ball deram lugar para alguns hadoukens e dois kame hame ha.
O filme teve cenas legais, uma pitada de humor e uns efeitos especiais bacanas. Mas a melhor luta de todo o filme não foi contra Piccolo e sim Goku contra os valentões do colégio.
Então os créditos do filme aparecem e eu penso “não foi tão ruim”, mas logo surge o gancho para um Dragonball Evolution 2 e eu solto uma grande gargalhada.
Tentarei descrever a cena:
Uma mulher aparece com uma solução com ervas para curar os ferimentos de alguém que está deitado em uma cama. Passando o pano na cabeça da pessoa misteriosa, ela olha para a mulher e a câmera revela que é Piccolo.
Não perceberam? Deixe-me descrever assim:
Uma mulher vem curar os ferimentos de alguém que estava deitado de lado e que olha de repente para ela...
Ou melhor, assim:
Piccolo estava deitado de lado tendo um gostoso cochilo quando uma mulher o acorda e ele, assustado, olha para ela.
A cena foi tão cômica que detalhes como Piccolo não ter nem uma ferida na cabeça para ser curada passam despercebidos. Detalhe para o cobertor que estava sobre Piccolo... será que ele estava com frio?
Deixando claro, também, que os atores tem suas parcelas de culpa no filme. Com suas interpretações de filmes da "sessão da tarde".
Sinceramente espero que tenha um Dragonball Evolution 2, se já foi lançado o Efeito Borboleta 3, por que não um Dragonball Evolution 2? Melhorando o roteiro e Akira Toriyama acompanhando as filmagens, pode até sair um bom filme.
Se alguém que nunca assistiu Dragon Ball e que nunca ouviu falar de Goku assistir Dragonball Evolution perceberá que ele é um filme ruim e se ela sair correndo e não ver o gancho, ela concluirá e contará aos seus amigos que o filme, afinal, não era tão ruim assim.
Dragonball Evolution é o filme que todos me diziam que era ruim, mas que eu tinha que ver com os meus próprios olhos, pois achava que não poderia ser tão ruim assim. E no final, o filme realmente era ruim, mas não pelos motivos que as pessoas, que não assistiram, achavam.
Não é pelas mudanças comparando com o original, nem pelo diretor, nem os efeitos especiais e nem pelos atores. O principal problema de Dragonball Evolution é seu roteiro.
Não reclamo de nem uma mudança que o filme tenha em relação à Dragon Ball, mas o roteiro forçado e sem um devido cuidado deixo Piccolo agindo como Dark Vader e sem fazer muita coisa no decorrer do filme. As incríveis e longas lutas de Dragon Ball deram lugar para alguns hadoukens e dois kame hame ha.
O filme teve cenas legais, uma pitada de humor e uns efeitos especiais bacanas. Mas a melhor luta de todo o filme não foi contra Piccolo e sim Goku contra os valentões do colégio.
Então os créditos do filme aparecem e eu penso “não foi tão ruim”, mas logo surge o gancho para um Dragonball Evolution 2 e eu solto uma grande gargalhada.
Tentarei descrever a cena:
Uma mulher aparece com uma solução com ervas para curar os ferimentos de alguém que está deitado em uma cama. Passando o pano na cabeça da pessoa misteriosa, ela olha para a mulher e a câmera revela que é Piccolo.
Não perceberam? Deixe-me descrever assim:
Uma mulher vem curar os ferimentos de alguém que estava deitado de lado e que olha de repente para ela...
Ou melhor, assim:
Piccolo estava deitado de lado tendo um gostoso cochilo quando uma mulher o acorda e ele, assustado, olha para ela.
A cena foi tão cômica que detalhes como Piccolo não ter nem uma ferida na cabeça para ser curada passam despercebidos. Detalhe para o cobertor que estava sobre Piccolo... será que ele estava com frio?
Deixando claro, também, que os atores tem suas parcelas de culpa no filme. Com suas interpretações de filmes da "sessão da tarde".
Sinceramente espero que tenha um Dragonball Evolution 2, se já foi lançado o Efeito Borboleta 3, por que não um Dragonball Evolution 2? Melhorando o roteiro e Akira Toriyama acompanhando as filmagens, pode até sair um bom filme.
Se alguém que nunca assistiu Dragon Ball e que nunca ouviu falar de Goku assistir Dragonball Evolution perceberá que ele é um filme ruim e se ela sair correndo e não ver o gancho, ela concluirá e contará aos seus amigos que o filme, afinal, não era tão ruim assim.
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