quinta-feira, 12 de agosto de 2010

ilimitado, parte 10

Cheguei correndo até a porta do colégio porque pensava que estava atrasado para a primeira aula. Subindo as escadas, um pouco desesperado, cheguei até o penúltimo andar e logo me dirigi até a terceira sala do lado esquerdo da escada. Espiei com muito cuidado pela pequena abertura quadrada de vidro que existia no centro de quase todas as portas do andar na esperança de que a figura autoritária que gostava de me dar notas baixas e de me fazer perguntas que geralmente não sabia as respostas ou, como era geralmente chamado, o professor, não ter chegado.

Vi logo a adorável Ângela sentada na primeira cadeira da fila do centro da sala olhando para um pequeno espelho que estava em sua mão e, infelizmente, no final da mesma fila vi Ricardo. Logo vi também Tom sentado mais a esquerda da sala rabiscando alguma coisa em seu caderno e, estranhamente, não vi Karla que normalmente não se atrasava. Não vi o professor e fui logo entrando apressado e me dirigindo para a cadeira ao lado de Tom.

-Como foi o final de semana? – Perguntou Tom sem olhar para mim e ainda rabiscando em seu caderno.
-Normal, apenas tentei estudar, o de sempre. – Respondi sem empolgação.
-Perdemos mais um show da Hikari, deve ter sido incrível.
-Sim foi realmente incrível. – Respondi sem pensar e logo Tom parou de rabiscar e olhou para mim estranhando minha resposta. Tentando disfarçar continuei. – Foi o que eu ouvi falar e o que você esta rabiscando?
-Somos nós três no show dela, não ficou legal?

Tom era um bom músico, mas nem de perto um bom desenhista. Seus desenhos geralmente poderiam sem confundidos com aqueles típicos desenhos que crianças faziam para seus pais onde as pessoas eram apenas palitos com uma cabeça redonda. Não podia reclamar dos desenhos dele, pois os meus geralmente eram assim também.

Nossa conversa foi interrompida pelo professor que havia acabado de entrar na sala. Era aula de matemática, umas das poucas matérias que eu gostava, e até que as aulas do nosso professor não davam sono. Não por causa da metodologia empregada, mas por causa do professor em si.

Sempre que ele entrava na sala, geralmente correndo, antes de cumprimentar os alunos ele escrevia dois riscos em cada extremidade da lousa. Tínhamos uma teoria que ele devia ser algum tipo de robô e que se um dia fosse apagado algum dos dois riscos sem ele perceber, ele não pararia e se chocaria na parede. A aula seguia com movimentos rápidos e um pouco nervosos e, às vezes, para achar uma solução para um problema ele ficava parado olhando concentrado para a sua mão esquerda e depois continuava com a resolução.

A aula de matemática acabou e logo também a aula seguinte, que eu passei toda cochilando involuntariamente, pois algumas aulas me dão muito sono. Conseguir fazer os alunos dormirem com o som de sua voz deve ser o requisito principal para poder ser professor, é incrível a capacidade de alguns, chegando até ser mais eficiente que alguns remédios vendidos nas farmácias.

Saímos da sala para o intervalo e nem sinal de Karla. Tom e eu compramos um salgado com um pequeno copo de suco e ficamos sentados nas cadeiras próximas a cantina. Ficamos observando um pequeno grupo de quatro pessoas que estavam jogando RPG em uma das últimas mesas da cantina.

Observar pessoas jogando RPG é ótimo passatempo, é curioso ver pessoas incorporando papeis e ignorando qualquer sentimento de vergonha com tal ação. Eu nunca joguei RPG de mesa, apenas jogos do gênero. Tenho curiosidade de um dia jogar, mas de preferência em algum lugar isolado.

Logo o breve intervalo acabou e voltamos para a sala para assistir mais duas aulas intermináveis. Karla não havia chegado e provavelmente não apareceria mais. É muito difícil ela chegar atrasada em uma aula e faltar era um evento raro que, as poucas vezes que aconteceu, foram por motivos de doença. Muito diferente dos meus que geralmente são por causa de excesso de sono, não escutar o despertador, chuva, perder o ônibus, preguiça, ajudar uma velhinha a atravessar a rua e muitos outros.

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