terça-feira, 30 de dezembro de 2008

ilimitado, parte 3

A universidade virou o meu lugar favorito. Apesar de ter vivido muitos anos, o mundo é um lugar imenso e seria muito difícil, até para mim, estar presente em cada momento relevante da história.

Não preciso me preocupar com custos de estudo, graças a um membro de minha família ser um dos fundadores. Claro que não foi o pai de meu avô que fundou esta universidade, fui eu.

Gosto de história, física, matemática e todas as outras subdivisões do conhecimento. É fascinante o que a humanidade pode descobrir e fazer. Mas a aula que mais aprecio é, para mim, a que mais me constrange. As memoráveis aulas de história.

Às vezes, infelizmente, não me contenho com as informações, erradas ou distorcidas, afirmadas pelo professor, de momentos da história que estive presente, para seus alunos. É incrível como atos de amigos e conhecidos são modificados ou mal compreendidos no decorrer da história.

Nas vezes que tentei corrigir tais distorções, todos na sala ficavam admirados com minhas afirmações e, nos melhores dos casos, o professor dizia que era uma teoria interessante, mas como não podia citar minhas fontes, esta teoria era logo dispensada e a aula voltava ao seu curso normal.

Confesso que o conhecimento não foi o único motivo para fundação desta. Meus filhos.

Tenho um profundo amor por meus filhos e os filhos de meus filhos. Foi uma experiência difícil a morte de meus pais, e a terrível experiência de sua ressurreição, mas nem se compara com a separação de meus filhos.

Ainda na época de minha primeira vida, estava claro para mim que eu não iria morrer. Já tinha chegado aos sessenta anos, que era bastante incomum para época, e tive que por em prática um plano para a separação.

Passei aquela semana visitando meus filhos em suas casas. Olhei como estavam crescidos e como eram bonitos os seus filhos. Fiz o meu primeiro testamento, forjei um estranho acidente envolvendo um passeio a cavalo e um rio em um dia nublado.

Foi triste vê-los chorando em meu enterro. Mas nunca fiquei muito longe deles e felizmente, acho, não deixei uma viúva, ela tinha falecido muitos anos atrás.

A universidade para mim é um estranho lugar de encontro. Nela fico próximo de alguns de meus descendentes.

Às vezes consigo tornar-me colega de sala de alguns deles e, às vezes, seus professores. Uma vez lembro que o filho de um deles me achou familiar e foi em minha direção me abraçar. Acho que não posso me esconder da percepção inocente das crianças.

E no horário do almoço, andando por um corredor, tive uma estranha e inconfundível sensação que vinha do jardim.

E no jardim reconheci, assim como um pai reconhece um filho que nunca soube que existia, meu sucessor.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

ilimitado, parte 2

Bomba...

Realmente não gostava de brincar de estátua. Poderia aproveitar o tempo imóvel para pensar e refletir, mas já pensei e refleti bastante por toda a minha vida.

Imóvel, alguns cortes e o inconfundível fedor de morte. Então vi David do lado de seu último ato como vivo. Poderia salva-lo, é verdade, mas a experiência já mostrou que o resultado do salvamento não é positivo.

Andei até David, peguei a sua carta inacabada, agora com um pouco de sangue, e resolvi fazer um último favor ao meu falecido amigo.

Sempre é uma dúvida a maneira certa de chegar a algum lugar. Com certeza nunca é bom quando me vêem chegando. Minhas chegadas poderiam ser mais fáceis se eu pudesse ficar invisível, mas, infelizmente, perdi esse poder a muito tempo atrás, na época que eu poderia chamar de primeira vida.

Recuperando-me fisicamente e abrindo uma fenda, cheguei ao meu destino de madrugada. Cheguei à singela casa de dois andares, com cores desbotadas e um estranho ar de esperança. Coloquei a carta na caixa de correio e fui até a janela do segundo andar tentar descobrir como se parecia a amada de meu amigo, sim, estava curioso.

Olhando pela janela, ajudado pela luz do luar, a vi. Realmente era linda, não a mais bela que já conheci, mas infelizmente não pude observá-la por muito tempo. Acho que pode ter sentido minha presença ou apenas tinha um sono leve, mas infelizmente ela acordou.

Acordou assustada, me escondi, e saiu correndo, por algum motivo, para a porta. Parecia que sabia que tinha recebido mais uma carta de seu amado. Infelizmente não pude ficar para ver sua reação e fui para o lugar que chamei de casa, a lua.

Realmente tinha outras casas na Terra, mas era um pouco complicado. Sempre tinha que inventar que eu era um sobrinho, tio, primo, irmão ou algo do tipo do dono da casa. Afinal, apesar de poder mudar minha idade física, isso exigia concentração e cuidado. Mas mesmo assim nunca consegui viver na mesma casa muitos anos.

A lua, único lugar que eu não seria incomodado. Nela é onde guardo as lembranças dos meus muitos anos de vida. A foto de meus pais, do meu segundo amor, do terceiro e quarto.

Não guardo a foto do meu primeiro amor. Com ela foi que aprendi que devo manter o meu segredo até das pessoas que amo. Ainda lembro claramente a expressão que ela fez quando demonstrei que podia ficar invisível.

-Promete que não vai se assustar?
-Nada que você fizer poderá me assustar, eu ti amo! Lembra?
-Pois então... agora você esta me vendo e agora...

Aquela expressão de susto que logo mudou para medo.

- Viu? Eu posso ficar invisível!
-....
- O que foi?

Saiu correndo pela rua, fiquei assustado e fui atrás dela. Tive mais medo naquele momento do que quando descobri meus poderes, fiquei pensando que ela iria contar para todos e minha vida iria acabar. Então, por instinto, acho, quis apagar de sua memória tudo relacionado ao meu segredo e, no lugar, colocar uma memória falsa de uma discussão e que tínhamos acabado o relacionamento para sempre. E foi exatamente o que aconteceu.

Deixando memórias tristes no passado, resolvi voltar à universidade.

domingo, 28 de dezembro de 2008

ilimitado, parte 1

Depois de alguns anos, muitos anos, o nome é algo que se perde, não que não fosse importante, mas com o passar de tanto tempo simplesmente não é mais percebido sua importância, seja por choque de culturas ou uma memória fraca.

E quando chega nesse tempo, se alguém pergunta o seu nome, você é obrigado a dizer o primeiro nome que vem a cabeça, que, muito provavelmente, não será o primeiro nome que lhe foi dado. Então em resposta diz "Bob".

Guerra...

-Então? Não vai me dizer? Qual o seu nome?
-Bob.
-Bob? Pode me chamar de David.

Com o passar do tempo não é dado muita importância ao nome, mas a amizade, sim a amizade, ela que nem todos dão muita importância. A amizade é importante, porque graças a ela é possível suportar o fardo do tempo. E como a amizade surge de pessoas que menos esperamos, fiquei amigo de um David, justamente naquele tempo que se pensava apenas em morte e casa.

Mas o que eu estava realmente fazendo ali mesmo? Por acaso me importava quem perdia ou ganhasse? Não, não me importava realmente, mas mesmo não me importando e com bastante tempo livre, uma guerra ocuparia o meu tempo.

Então pegar uma arma e matar outras pessoas? Não, já desisti dessa idéia muito antes da primeira. Nesta grande segunda sou um mero mensageiro, assim influencio o mínimo possível o resultado e deixo os responsáveis seguirem a sua sorte.

-Então? Chegou mais alguma carta dela?
-Infelizmente não, mas acho que logo chegará.
-Certo, então ti entregarei outra carta mais tarde.

Mais um de muitos que não teve escolha. David veio para guerra, veio por burrice ou patriotismo, mas infelizmente veio. Deixando perto de sua casa uma garota que provavelmente o amava. Posso dizer, com certeza, ele a amava.

Muitas cartas iam e muito poucas voltavam, mas as que voltavam pareciam que continham a resposta para a felicidade eterna. Assim, David amigo, contava e sorria sobre ela e com certeza pensava mais em casa do que em morte.

Então..., ataque!

Veio um ataque, feridos... alguns, mortos... todos que não estavam bem protegidos, exceto um. E este gritava desesperado por ajuda.

Não ajudei, mesmo não me importando com uma falsa morte, apenas não queria brincar de estatua. Quando olhei para David, já estava estampado em sua cara o ato que no momento pareceria heróico, mas que estava claro como seria o seu final.

-Vou salva-lo.
-...não!

Não deve ter nem escutado minha resposta. Mas realmente não importou se o seu ato teria ou não salvado o homem. Graças ao avião que passava, eu teria de brincar de estatua por algum tempo.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

O inicio

Como iniciar uma história?

Devia contar sobre uma grande terra distante onde um grande reino de tradições antigas está passando por tempos tenebrosos e que um grande herói acaba de nascer?

Vamos deixar para depois...

Vou iniciar uma historia onde toda historia tem que começar..., do começo..., apesar de que a tradição não segue a lógica..., você por acaso nunca leu uma história que descobriu não ser o inicio?

Tentarei começar pelo começo, passando pelo meio e chegando finalmente ao final.

Mas que historia contarei? Nem eu realmente sei, afinal não preparei nada e estou escrevendo diretamente do teclado para vossos olhos. Só espero não me arrepender de alguma informação dada no início que não servirá de nada no futuro ou que estragará a grande surpresa do final. Surpresa está que é tão surpreendente que nem eu mesmo sei.

E por ironia do destino alguem achou este texto e curiosamente se perguntou:

Por que "Histórias de trás para frente"?

Responderei, tentarei escrever em linha reta, mas a cada postagem... o que antes foi o início amanha, inevitavelmente, será o final.

iniciando

Primeiro de tudo quero avisar aos defensores do bom português que eu sei que o nome deveria ser "fantasiando", mas, infelizmente, não estava disponível.

Aviso também que provavelmente este não será o único erro de português que cometerei.

Bem..., por que estou escrevendo?

Escrever ajuda a exercitar o português que está um pouco debilitado e enferrujado. Além de exercitar a imaginação.

Escreverei para mim! Sim, escreverei exclusivamente para mim, mas ficarei feliz se o grande oráculo que tudo vê e tudo sabe (menos traduzir texto de uma lingua para outra) fizer que alguma boa alma ache este blog e quem sabe goste do que leu e, com um pouco de sorte, comente.