sexta-feira, 17 de abril de 2009

ilimitado, parte 7

Chegamos ao shopping. Concordamos que deveríamos comer, mas não sobre o que. Karla preferiu comida chinesa, enquanto Tom foi atrás de uma pizza e eu fui comprar um sanduíche simples que já estava pronto antes de eu chegar. Deve ser por isso que chamam de fast food, não?

Graças ao sanduíche, cheguei primeiro a mesa e enquanto comia, bem devagar, tentava imaginava como poderia saber o que pensava a mulher, impaciente, que estava a três mesas de distância.

Como se cada mente fosse um rádio e a única coisa que precisava fazer fosse sintonizar na estação certa com o limite de alguns metros de recepção.

“Onde será que ele está? Todo esse tempo para levar ele ao banheiro?”

Estava funcionando. Sabia exatamente como fazer, mas não compreendia como eu sabia.

Logo a mulher mudou de expressão quando um homem que andava junto com uma criança se aproximava dela. Sorrisos, um beijo e o homem, provavelmente seu marido, me percebeu. Desviei o olhar imediatamente, ele deve ter percebido minha muita atenção a sua mulher. Provavelmente eu devia estar fazendo alguma careta de concentração, mas, mesmo assim, continuei observando outras pessoas ao meu redor.

Uma mulher que brincava com um bebê.

“Olha que sorriso bonito.”

O atendente de uma loja que vendia roupas.

“O dia está acabando, ainda bem que este é o meu último dia aqui!”

Um casal de namorados que se beijavam.

“Será que ele vai embora logo?”

Um homem que olhava para mim.

“Que gatinho.”

Arrepiei-me, acho que nem sempre é bom saber o que as outras pessoas pensão.

Karla já estava chegando com seu macarrão que acompanhava outras comidas que eu não sabia o nome e, logo atrás, vinha Tom com uma pizza bastante recheada que exalava um cheiro muito bom.

Ficamos conversando sobre diversos assuntos, achei melhor pular a parte sobre ler pensamentos e um estranho homem chamado Chocolate, e começamos a conversar sobre a competição e nossa colocação. Tiramos terceiro lugar, mas concluímos que foi bem melhor do que o quarto no ano passado. Continuando a conversa, Karla, decepcionada, disse:

-Nossa última competição de grupo, esperava pelo menos uma vez tirar primeiro, mas agora é tarde.
-Talvez tenha algo do tipo na faculdade, não? – Disse Tom para tentar animá-la.

Última competição? Karla me lembrou como era importante aquele ano, o ano do vestibular. Claro que não estava me esquecendo dele, mas não tinha pensado por este ângulo. Provavelmente não precisarei me preocupar em competir com Ricardo, mas será que continuarei vendo Ângela? Comecei a ficar triste, mas ela foi logo interrompida pelo entusiasmo de Karla:

-Olhem! Vamos? – Disse Karla apontando para uma máquina colorida que me parecia familiar.

Acho que virou um tipo de tradição. Pelo menos uma vez por ano nós batíamos uma foto nessas maquinas. Karla gostava de escolher a moldura da foto e, desta vez, ela escolheu uma com um troféu de primeiro lugar.

-Pelo menos na foto conseguimos. – Disse Karla com um sorriso no rosto.

Dividimos as pequenas fotos adesivas, como de costume, e fomos andar pelo shopping sem destino certo. Passando por vitrines e vitrines, visualizamos, ao longe, o lugar de jogos eletrônicos e, sem pensar duas vezes, fomos em direção a ele.

No local, Tom e eu passamos indiferentes por uma máquina colorida cheia de bichos de pelúcia, mas Karla parou diante dela. Era uma máquina que possuía uma garra de metal que as pessoas usavam para tentar agarrar um bicho de pelúcia. A pessoa só ganhava o brinquedo caso ele ficasse preso pela garra até uma abertura circula na extremidade da máquina.

Ela ficou olhando para os bichos com um ar de esperança e disse:

-Nunca consigo ganhar um bicho de pelúcia nestas máquinas, será que hoje vai ser diferente? - Disse Karla com uma voz triste, mas que demonstrava um pouco de esperança.

Não era a primeira vez que via Karla tentar conseguir um bicho de pelúcia naquela máquina. Ela mais uma vez tentou, agarrou o bicho, o elevou e, na metade do caminho, ele caiu. Vi a decepção em seu rosto e queria poder ajudá-la de algum modo.

Se eu pudesse sustentar o bicho de pelúcia como se minha mão estivesse embaixo dele, poderia impedir que ele caísse. Do mesmo modo que eu sabia como ler pensamentos, sabia agora como poderia fazer isso. Era estranha a sensação de, simplesmente, saber algo que eu nunca tinha aprendido. Como se sempre solvesse como fazer, apenas tivesse esquecido.

Karla estava desanimada e não parecia que iria tentar novamente, então disse para tentar incentivá-la:

-Não vai tentar de novo? Você pode ter sorte na segunda vez.

Karla olhou para mim ainda desanimada, deu um sorriso e, sem muita esperança, aceitou minha sugestão e tentou novamente.

Karla tentou pegar uma girafa e quando ela a elevou eu comecei a me concentrar, mas tentando não demonstrar com algum tipo de careta.

Ela não podia acreditar que finalmente tinha conseguido. Deu pulos de felicidade e abraçou, bem forte, eu e Tom ao mesmo tempo.

-Vamos continuar andando? Queria olhar alguns CDs de música – Disse Tom olhando para uma loja que estava próxima.
-Não! – Disse Karla enérgica – Agora tenho que aproveitar minha sorte e tentar de novo.
-De novo? – Eu disse com uma voz um pouco desanimada.

Karla tentou pegar agora um elefante azul e eu a ajudei novamente. Ela ficou muito impressionada com a sorte que estava tendo e tentou novamente. Pegando, com sucesso, um leão.

Fiquei pensando quando ela iria parar e se eu devia continuar ajudando. Quando ela se preparava para tentar pegar um hipopótamo roxo para aumentar o zoológico, dois homens a impediram.

-Esta máquina está com problemas e vai ser interditada agora. – Disse seriamente o homem que devia trabalhar no shopping.

Karla até tentou protestar, mas não obteve sucesso. Ela logo desistiu do protesto, pois já estava bastante feliz com seus animais coloridos e, aceitando a sugestão de Tom, nos chamou para ir à loja de CDs.

Antes de ir embora escutei de um dos homens:

“Impossível, ela esta programada para uma pessoa ter chance a cada quinze tentativas.”

Chegamos à loja favorita de Tom, a loja de CDs de música. Ele gostava muito de música, sabia tocar violão e estava aprendendo a tocar piano. Sempre quis aprender a tocar algum instrumento, mas, até hoje, só aprendi algumas poucas notas de violão que Tom me ensinou.

Foi Tom que me apresentou a nossa cantora favorita, Hikari. Curiosamente não entendíamos o que ela cantava, mas procurávamos traduções de suas músicas na internet. O verdadeiro motivo para gostarmos de suas músicas era o sentimento que ela conseguia passar, como se sua música fosse capas de tocar em nosso espírito.

Ficamos perambulando pela loja, escutando algumas músicas e decidindo se compraríamos algo ou não. Fiquei conversando com Tom sobre como seria legal ir a um show da Hikari e como era praticamente impossível ela vir fazer um show na nossa cidade.

Tom decidiu comprar o nome CD da Hikari, eu gostaria de ter comprado também, mas não tinha dinheiro suficiente no momento. Não comprei o CD, mas tinha certeza que o meu grande amigo Tom me emprestaria quando acabasse de escutar umas dez vezes ele.

Karla já nos esperava impacientemente na porta da loja, ela não havia encontrado nada que gostasse e nos chamava para ir embora. Já estávamos passando pela porta quando um estranho cartaz nos chamou a atenção.

Não entendíamos tudo que estava escrito no cartaz, mas entendemos que Hikari iria fazer um show hoje. Procuramos informações mais atentamente pelo cartaz e descobrimos que o show seria na sua cidade natal para comemorar dez anos de sua carreira.

Ficamos maravilhados com a notícia, mas, logo depois, percebemos que não poderíamos ir ao show porque era em outro país. Ficamos parados olhando para o cartaz e imaginando como seria. Ficaríamos satisfeitos se pudéssemos assistir ao seu show na televisão ou qualquer outra forma não presencial, o importante era sentir como seria ir a um show dela ao vivo.

Então, como antes, me ocorreu uma idéia. Não uma simples idéia, mas uma idéia que, provavelmente, apenas eu poderia ter. Fiquei muito empolgado com ela e estava com muita vontade de chegar em casa para testá-la.

-Por que esse sorriso no rosto? – Perguntou Tom desconfiado.
-Por nada, apenas sonhando acordado – Disse tentando disfarçar.

sábado, 11 de abril de 2009

Crítica: Dragonball Evolution

Sim, mas uma vez não vou postar uma história e sim falar deste filme que assisti hoje. Será que isso vai tornar-se uma tradição?

Dragonball Evolution é o filme que todos me diziam que era ruim, mas que eu tinha que ver com os meus próprios olhos, pois achava que não poderia ser tão ruim assim. E no final, o filme realmente era ruim, mas não pelos motivos que as pessoas, que não assistiram, achavam.

Não é pelas mudanças comparando com o original, nem pelo diretor, nem os efeitos especiais e nem pelos atores. O principal problema de Dragonball Evolution é seu roteiro.

Não reclamo de nem uma mudança que o filme tenha em relação à Dragon Ball, mas o roteiro forçado e sem um devido cuidado deixo Piccolo agindo como Dark Vader e sem fazer muita coisa no decorrer do filme. As incríveis e longas lutas de Dragon Ball deram lugar para alguns hadoukens e dois kame hame ha.

O filme teve cenas legais, uma pitada de humor e uns efeitos especiais bacanas. Mas a melhor luta de todo o filme não foi contra Piccolo e sim Goku contra os valentões do colégio.

Então os créditos do filme aparecem e eu penso “não foi tão ruim”, mas logo surge o gancho para um Dragonball Evolution 2 e eu solto uma grande gargalhada.

Tentarei descrever a cena:

Uma mulher aparece com uma solução com ervas para curar os ferimentos de alguém que está deitado em uma cama. Passando o pano na cabeça da pessoa misteriosa, ela olha para a mulher e a câmera revela que é Piccolo.

Não perceberam? Deixe-me descrever assim:

Uma mulher vem curar os ferimentos de alguém que estava deitado de lado e que olha de repente para ela...

Ou melhor, assim:

Piccolo estava deitado de lado tendo um gostoso cochilo quando uma mulher o acorda e ele, assustado, olha para ela.

A cena foi tão cômica que detalhes como Piccolo não ter nem uma ferida na cabeça para ser curada passam despercebidos. Detalhe para o cobertor que estava sobre Piccolo... será que ele estava com frio?

Deixando claro, também, que os atores tem suas parcelas de culpa no filme. Com suas interpretações de filmes da "sessão da tarde".

Sinceramente espero que tenha um Dragonball Evolution 2, se já foi lançado o Efeito Borboleta 3, por que não um Dragonball Evolution 2? Melhorando o roteiro e Akira Toriyama acompanhando as filmagens, pode até sair um bom filme.

Se alguém que nunca assistiu Dragon Ball e que nunca ouviu falar de Goku assistir Dragonball Evolution perceberá que ele é um filme ruim e se ela sair correndo e não ver o gancho, ela concluirá e contará aos seus amigos que o filme, afinal, não era tão ruim assim.

sábado, 4 de abril de 2009

ilimitado, parte 6

Meus amigos estavam parados, o carro que atravessava o sinal vermelho estava parado, a velhinha que atravessava a rua, o mendigo que pedia esmola em outro sinal e até os três pombos que passavam por nossas cabeças. Todos estavam parados, exceto eu e meus pensamentos.

Então o céu começou a escurecer e a terra tremer. Logo veio trovões e um vento forte começou a soprar. E do alto veio uma voz assustadora que disse:

-Está com medo humano?

Realmente não sabia o que dizer. Tudo parecia uma cena de filme e, inexplicavelmente, disse:

-Não.
-Bom. – Respondeu a voz.

Um raio caiu bem próximo de mim e dele surgiu um ser moreno com cabelos assanhados que disse:

-Tam dam! – Exclamou com empolgação enquanto fogos de artifício explodiam no céu. E então conclui, estava sonhando.
-Está vendo? O importante é ter uma entrava empolgante, o importante é a primeira impressão. O que adianta tantos poderes e não ter uma entrada triunfal? –Disse, rapidamente e com empolgação, o homem diante de mim.
-E quem seria você? – Perguntei. Se eu estava em um sonho, um dos mais estranhos que eu me lembrava, não havia motivos para ter medo.
-Um novo ilimitado nasce! – Continuou a falar, me ignorando completamente.
-Você está me escutando? – Perguntei com indignação.
-Então eu cheguei a tempo? Você não destruiu o mundo ou algo do tipo, não é? Uma vez, sem querer, um ilimitado destruiu um mundo e precisou de quase uma semana para colocar tudo no lugar. É complicado chegar em um tempo exato passando por diferentes dimensões sabia? – Fez uma pequena pausa olhando para meu rosto que demonstrava uma expressão vazia e depois continuou - Esqueci de me apresentar, pode me chamar de Chocolate. – Concluiu o falante homem.
-Chocolate? – Perguntei, realmente era o sonho mais estranho que eu me lembrava, não que eu me lembrasse de muitos sonhos.
-Sim! Chocolate a única substância que possui o mesmo delicioso sabor em todas as dimensões que já visitei. Eu serei o seu conselheiro jovem ilimitado.
-Conselheiro? Como assim ilimitado? – Perguntei um pouco confuso, ou melhor, mais confuso ainda.
-Cada pessoa é única verdadeiramente, mas sua existência se repete em outras dimensões. Nomes diferentes, empregos diferentes, pais diferentes, quem sabe até irmãos diferentes ou simplesmente um corte de cabelo diferente. As diferenças entre as existências podem ser tão grandes ou quase imperceptíveis. Mas em cada dimensão um ser não segue essa regra e se torna realmente único em todas elas. Esses seres foram em algum momento denominados de ilimitados por causa do que podem fazer e você meu jovem, é o mais novo ilimitado.
-Então eu posso parar o tempo? – Indaguei, ignorando quase que completamente o que ele acabara de falar.

Ele, imediatamente, com uma voz estridente que fez a terra tremer e eu, instintivamente, cobrir os ouvidos falou:

-Silêncio! A única regra que um ilimitado tem que seguir é nunca, jamais completar a frase “eu posso...”. Se alguém escutar, você nunca mais poderá fazer o que você disse. Você tem muita sorte que essa regra não se aplica quando um ilimitado escuta. Afinal, o que você pode fazer não é nem uma novidade para mim.
-Então eu sou algum tipo de mago? Tenho que dizer alguma palavra mágica? Que sonho maluco estou tendo.
-Mago? Em todos esses anos eu não presenciei uma real magia. Não somos magos, você precisa entender o que está fazendo, você nunca poderá fazer algo que não entende. – Falou com uma voz irritada e, depois de uma breve pausa, deu um sorriso, me segurou e voamos para muito alto.
- Não! – Foi a única palavra que consegui pronunciar antes de pararmos. Estávamos bem alto, passando um pouco do topo de um prédio que estava próximo.
-Será que você já sabe voar? – Disse seriamente antes de me soltar.

Dizem que quando está na eminência de morrer você ver sua vida inteira passando por seus olhos, mas eu não via nada além do chão se aproximando. Então tive um pensamento que me assustou bastante, não poderia ser um sonho. Eu já deveria ter acordado e se não é um sonho, então vou morrer.

-É, você não sabe voar ainda. – Disse Chocolate quando me segurava, e logo me soltava, há um metro do chão.
-Você está louco? Você quer me matar? – Exclamei sem muito fôlego.
-Não acha que está sonhando? Como poderia ti matar? E você não pode morrer tão facilmente.
-Não estou sonhando, já percebi isso. – Parei por um segundo para refletir sobre a sua resposta e continuei – Sou imortal? – Disse ainda sem saber se entendi realmente o que ele dissera.
-Claro que não. Você pode morrer como qualquer outra pessoa, mas, dependendo de sua criatividade, você pode sobreviver em ocasiões que normalmente uma pessoa morreria. Quem sabe se cortarem a sua cabeça... bem, nunca se sabe.

Chocolate ficou calado por um momento olhando para o meu rosto pensativo que tentava processar tudo que ele dizia e continuou:

-Tchau.

Imediatamente voltei do meu estado pensativo e, com uma voz exaltada, disse:

-Como assim? Você aparece e me diz que eu sou um “ilimitado”, me diz que eu tenho poderes, quase me mata e simplesmente vai embora? Não vai me dizer que “com um grande poder vem uma grande responsabilidade”? Que eu tenho uma importante missão para salvar a humanidade? Que eu tenho que lutar pela justiça? Que eu tenho que me tornar um super-herói? – Acho que eu exagerei um pouco.
-Não. Não sou seu pai e sim seu conselheiro. Você decide o que vai fazer com seus poderes. O meu conselho é que você faça o que achar melhor, mas realmente aconselho há não destruir o mundo e, principalmente, a dimensão. Porque se fizer isso você vai ter problemas.
-Por que eu destruiria o mundo?
-Ficarei de olho em você jovem ilimitado. Lembre-se da regra e decida-se. – Disse-me antes de desaparecer em um grande clarão que veio seguido de um barulho forte.
-Então? O que acha? – Disse Karla olhando para mim.

O tempo voltou a correr. O carro que passava no sinal vermelho quase acertou a velhinha que atravessava a rua, o mendigo conseguiu algumas moedas no outro sinal e os três pombos voavam para longe. Meus amigos agora estavam se movendo e se perguntavam o motivo de eu estar parado olhando para o nada.

-Não seria bom comer logo um sanduíche?

Continuamos andando em direção ao shopping. Estava com um pouco de fome, mas com muita vontade de experimentar e descobri o que eu poderia fazer com esses poderes. Chocolate me deixou livre, então acho que tenho que me divertir.