terça-feira, 8 de dezembro de 2009

ilimitado, parte 9

Acordei com um pouco de barulho de conversas, um delicioso cheiro no ar e uma fome nunca antes sentida. Eu normalmente não sentia fome quando eu acordava, uma característica peculiar que, aparentemente, não era genética, pois minha mãe sempre acordava com fome.

O delicioso cheiro que estava no ar era, inconfundivelmente, o almoço, mas estava muito sendo para ele, ou não. Olhei para o relógio que ficava ao lado da minha cama e já marcava meio dia. Normalmente não acordava sedo, mas nunca tinha acordado na hora do almoço, provavelmente, culpa do costume de acordar cedo para as aulas.

Escovei os dentes, lavei o rosto bem rápido e foi para a cozinha. E lá estavam meus pais conversando, sorrindo e almoçando.

-Olha quem ta vivo! – Disse meu pai, com o tom brincalhão, quando me viu.
-Filho? Esta doente? Agora está com fome, não? – Disse minha mãe com um tom leve de preocupação.

Sentei-me e comecei a almoçar um prato de comida um pouco maior do que normal, sem saber se aquela quantidade de comida era por causa da fome ou gula.

Estava de bom humor e feliz com a noite anterior. Não estava preocupado com as palavras enigmáticas de Chocolate e estava com muita vontade de contar o que aconteceu, então disse em um tom animado:

-Tive um sonho muito bom essa noite. Não lembro todos os detalhes, claro, mas foi incrível.
-Sonho muito bom? Envolvia garotas, strip-tease e coisas assim? – Falou meu pai com um sorriso no rosto, enquanto levava um cutucão de repreensão da minha mãe.
-Não pai. Sonhei que eu estava em outro país assistindo o show de uma cantora que eu gosto.
-Outro país? Já sei qual é! Não sei como você gosta de uma música que você não entende. – Falou com um tom leve de repreensão.
-Você não gosta das músicas que passam na rádio e que você também não entende? – Rebati firmemente.
-Poucas, muito poucas. Mas isso é diferente... – Parou sem completar a frase e, mudando de assunto, continuou – Está estudando? – Disse seriamente.
-Sim pai, claro. – Falei automaticamente.

Já estávamos terminando de almoçar e minha mãe retirou da geladeira uma deliciosa sobremesa de chocolate. Era normal de vez em quando ela fazer aquele tipo de sobremesa e mais comum ainda ela tentar modificar algo na receita para tentar fazer ela melhor. Desta vez, percebi que ela tinha colocado raspas de biscoito dentro e devo admitir que ficou muito bom.

Depois de almoçar fui descansar um pouco. Encher a barriga me dá sono, mas por causa da pergunta de meu pai, passei o resto do final de semana estudando. Acho que já tive aventura de mais por um final de semana e segunda terei aula normal. Se é que isso é possível agora.

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

ilimitado, parte 8

Estava muito ansioso para chegar em casa. Inventei a desculpa que estava cansado e que queria ir para casa. Todos concordaram em ir e fomos pegar o ônibus.

O ônibus estava um pouco cheio, mas consegui me sentar depois da metade do caminho até minha casa. Comecei a olhar pela janela e pensar sobre o que estava acontecendo comigo, mas minha atenção logo se voltou ao refrão de uma música que estava sendo tocada no rádio do ônibus. Comecei a cantar baixo o refrão que dizia: “gira e volta uma volta e meia, e gira todo dia meia volta”. Não conseguia entender muito bem o significado do refrão e, aparentemente, o motorista também não, pois logo mudou a estação, parando em uma que mais o agradava.

O ônibus é um lugar um pouco especial para mim, pois meus pais me contaram que foi nele que eles se conheceram. Aparentemente, meus pais usavam a mesma linha de ônibus por um bom tempo para irem para o colégio, mas nunca haviam pegado o mesmo ônibus. No último ano no colégio finalmente aconteceu à coincidência deles se encontrarem e, como dizem, foi amor a primeira vista.

Cheguei em casa um pouco cansado realmente, minha casa ficava alguns quarteirões de onde o ônibus me deixava.

Entrando pela porta me deparei, como de costume, com o porta-retrato com a foto de minha família que foi tirada há alguns anos na praia. Lá estávamos nós três sorrindo deitados na areia úmida e um pouco preocupados se a câmera iria molhar.

Entrando na cozinha encontrei minha mãe que estava terminando de fazer algumas trufas de chocolate. Além da trufa ela aprendeu recentemente a fazer um delicioso bolo de chocolate com alguma de suas amigas.

-Ainda hoje você vai comer alguns, filho. – Disse ela sorrindo e com um tom de voz carinhoso que só uma mãe consegue fazer para seu filho.
-Certo mãe, mas provavelmente vou só comer alguma coisa e dormir, estou muito cansado. – Disse tentando expressar um cansaço maior do que eu sentia.
-E o papai? – Perguntei em seguida.
-Ainda no trabalho, mas deve já estar chegando. E a competição como foi?
-Terceiro lugar. – Falei um pouco desanimado.
-Nossa! Parabéns! – Falou ela com um tom animado. Provavelmente não estava querendo me animar e sim sendo sincera.

Sorri para ela e sai para tomar banho. Voltando, fui para a cozinha procurar algo para comer e minha mãe já tinha feito dois sanduíches para mim.

Agradeci e foi comer em frente a TV. Deixei no canal que estava, era um jornal, e me concentrei em comer mais rápido do que de costume. Era uma notícia sobre algum confronto entre manifestantes e policiais em algum país. Antigamente não assistia jornal, preferia um filme, e ainda prefiro, mas comecei a assistir algumas vezes neste ano porque me disseram que era importante para o vestibular.

Acabei de comer, fui avisar para a minha mãe que já ia dormir e fui em direção ao meu quarto. Nossos quartos ficavam em um pequeno corredor formado pela parede deles e pela parede que ficava na sala. Passei pela primeira porta, que era a porta do quarto dos meus pais, e cheguei à minha. Antes de entrar, olhei para a terceira e última porta que ficava no final do corredor. Era o quarto onde meu pai tinha sua mini biblioteca particular.

Às vezes me deparo com a idéia de como seria bom ter um irmãozinho. Não só alguém que eu pudesse perturbar e culpar quando eu quebrasse alguma coisa, mas alguém que eu pudesse sempre contar e me divertir. Ainda tenho esperança, mas acho pouco provável os meus pais quererem ter outro filho. Bebês devem dar muito trabalho. Lembrando dessa idéia e olhando para o quarto, fico imaginando que lá seria o quarto do meu, não provável, irmãozinho.

Entrei no meu quarto e fui me deitar. Não estava com sono e nem havia intenção de dormir naquele momento, o que iria fazer era testar a idéia que eu tive.

Fechei os meus olhos e me concentrei. Uma maneira de estar onde não seria possível, de ver o que está acontecendo sem realmente estar no lugar. Comecei a não sentir mais meus pés e minhas mãos, a escuridão que estava vendo estava estranhamente começando a desaparecer e, quando percebi, estava em pé em frente a minha cama e podia me ver deitado de olhos fechados.

Podia movimentar meus pés e meus braços, mas não conseguia sair do lugar. Também não conseguia sentir e nem segurar o relógio que estava ao meu alcance perto de onde eu dormia. Percebia claramente que não estava morto, pois podia me ver respirando e mexendo os olhos de vez em quando.

Sentei-me para pensar um pouco e tentar achar uma solução de como conseguiria me movimentar. Alguns minutos depois vi minha mãe, com uma trufa na mão, indo no meu quarto verificar se eu estava realmente dormindo. Chamou meu nome bem baixo e, como não respondi, saiu do meu quarto um pouco decepcionada. Aparentemente, além de não poder pegar objetos, também não podia ser visto.

Apareci na cozinha. Simplesmente estava agora sentado no chão da cozinha onde minha mãe continuava a fazer trufas. Eu apenas quis estar na cozinha para ver se ela ainda estava decepcionada e apareci lá.

Levantei-me e agora estava de volta ao meu quarto, depois na sala, depois na parada de ônibus perto de casa e depois de volta para o meu quarto. Eu não me movimentava com meus pés e sim com o meu desejo.

Não sabia exatamente onde eu gostaria de estar, mas agora estava em um grande cruzamento onde uma multidão passava de um lado para outro tentando chegar aos seus destinos. Estava exatamente no lugar que eu havia visto em uma foto que achei quando procurava informações sobre Hikari. Estava em sua cidade natal, lugar que possuía prédios enormes com grandes telas de TV que passavam propaganda e que havia uma grande multidão de pessoas em todas as quatro esquinas que via.

Era estranha, e um pouco desconfortável, ter por diversas vezes pessoas passando por mim, sem me ver e sem me tocar. Não podia sentir cheiros e nem o vento passar. Mesmo no meio de tantas pessoas comecei a me sentir só.

Não sabia como chegar ao show, não podia pedir informações e não entendia a maioria das informações escritas que encontrava. Fui “pulando” de prédio em prédio até chegar ao mais auto para tentar ver alguma luz que indicasse um show. Não encontrei, mas algo que estava passando na TV chamou minha atenção.

Era uma espécie de jornal que estava passando várias notícias bem rápidas e em um deles apareceu um repórter que estava no show que eu tanto procurava. Fui imediatamente para o lugar e apareci no meio de uma enorme multidão.

Tentei prestar atenção e assistir o show, mas ficava muito incomodado quando as pessoas me atravessavam. Fiquei procurando um lugar para apreciar o show e vi uma estrutura para controle do som do show no meio da multidão e achei o lugar ideal para mim.

Fiquei sentado no teto da estrutura. Era incrível estar lá, se a música da Hikari já me passava algo quando escutava em um CD, ao vivo ela passava um enorme sentimento que fazia eu me arrepiar. Qualquer sentimento de solidão havia sumido e estava sentindo uma mistura de paz e felicidade.

-Esta gostando do show? – Disse-me uma voz um pouco familiar.

Olhei assustado para o meu lado direito e lá estava Chocolate sentado de um jeito descontraído como se aquela situação fosse algo bastante normal para ele.

-Chocolate? Você pode me ver? – Perguntei gritando por causa do som do show.
-Claro e, por favor, não grite, você acha realmente que você esta usando sua boca e eu meus ouvidos? – Disse ele de uma forma calma.

Ignorando sua resposta tentei perguntar algo, mas logo ele continuou:

-Você está aprendendo rápido, esse eu demorei um pouco para descobrir como fazer.
-Como eu sei fazer isso? – Disse agora em um tom normal.
-O que você esta usando é o que nós chamamos de instinto, mas nem tudo você irá conseguir fazer por instinto. Ele age muito na sorte ou pressão.

E olhando para o show de uma forma diferente disse:

-Não entendo por que ela continua fazendo isso, mas não é um bom sinal ela estar aqui.
-Você conhece a Hikari?
-É assim que vocês a chamam aqui? “O ilimitado que decidiu cantar” foi o título que ela recebeu.
-Ilimitado? Quer dizer que ela...? – Falei admirado, mas não completei a frase para que ele continuasse.
-Ela costuma aparecer em mundos que estão ou irão passar por grandes dificuldades, tentando trazer um pouco de sanidade e esperança a esses mundos.
-Grandes dificuldades? Como assim?
-Algo entre grandes guerras e uma destruição completa. – Disse ele de uma forma calma e natural.

Olhei para ele admirado, mas fiquei com receio de continuar perguntando. Depois de um tempo calados em que apreciávamos o show ele se despediu e sumiu, e eu fiquei aproveitando o final do show enquanto o sol aparecia ao longe.

sexta-feira, 17 de abril de 2009

ilimitado, parte 7

Chegamos ao shopping. Concordamos que deveríamos comer, mas não sobre o que. Karla preferiu comida chinesa, enquanto Tom foi atrás de uma pizza e eu fui comprar um sanduíche simples que já estava pronto antes de eu chegar. Deve ser por isso que chamam de fast food, não?

Graças ao sanduíche, cheguei primeiro a mesa e enquanto comia, bem devagar, tentava imaginava como poderia saber o que pensava a mulher, impaciente, que estava a três mesas de distância.

Como se cada mente fosse um rádio e a única coisa que precisava fazer fosse sintonizar na estação certa com o limite de alguns metros de recepção.

“Onde será que ele está? Todo esse tempo para levar ele ao banheiro?”

Estava funcionando. Sabia exatamente como fazer, mas não compreendia como eu sabia.

Logo a mulher mudou de expressão quando um homem que andava junto com uma criança se aproximava dela. Sorrisos, um beijo e o homem, provavelmente seu marido, me percebeu. Desviei o olhar imediatamente, ele deve ter percebido minha muita atenção a sua mulher. Provavelmente eu devia estar fazendo alguma careta de concentração, mas, mesmo assim, continuei observando outras pessoas ao meu redor.

Uma mulher que brincava com um bebê.

“Olha que sorriso bonito.”

O atendente de uma loja que vendia roupas.

“O dia está acabando, ainda bem que este é o meu último dia aqui!”

Um casal de namorados que se beijavam.

“Será que ele vai embora logo?”

Um homem que olhava para mim.

“Que gatinho.”

Arrepiei-me, acho que nem sempre é bom saber o que as outras pessoas pensão.

Karla já estava chegando com seu macarrão que acompanhava outras comidas que eu não sabia o nome e, logo atrás, vinha Tom com uma pizza bastante recheada que exalava um cheiro muito bom.

Ficamos conversando sobre diversos assuntos, achei melhor pular a parte sobre ler pensamentos e um estranho homem chamado Chocolate, e começamos a conversar sobre a competição e nossa colocação. Tiramos terceiro lugar, mas concluímos que foi bem melhor do que o quarto no ano passado. Continuando a conversa, Karla, decepcionada, disse:

-Nossa última competição de grupo, esperava pelo menos uma vez tirar primeiro, mas agora é tarde.
-Talvez tenha algo do tipo na faculdade, não? – Disse Tom para tentar animá-la.

Última competição? Karla me lembrou como era importante aquele ano, o ano do vestibular. Claro que não estava me esquecendo dele, mas não tinha pensado por este ângulo. Provavelmente não precisarei me preocupar em competir com Ricardo, mas será que continuarei vendo Ângela? Comecei a ficar triste, mas ela foi logo interrompida pelo entusiasmo de Karla:

-Olhem! Vamos? – Disse Karla apontando para uma máquina colorida que me parecia familiar.

Acho que virou um tipo de tradição. Pelo menos uma vez por ano nós batíamos uma foto nessas maquinas. Karla gostava de escolher a moldura da foto e, desta vez, ela escolheu uma com um troféu de primeiro lugar.

-Pelo menos na foto conseguimos. – Disse Karla com um sorriso no rosto.

Dividimos as pequenas fotos adesivas, como de costume, e fomos andar pelo shopping sem destino certo. Passando por vitrines e vitrines, visualizamos, ao longe, o lugar de jogos eletrônicos e, sem pensar duas vezes, fomos em direção a ele.

No local, Tom e eu passamos indiferentes por uma máquina colorida cheia de bichos de pelúcia, mas Karla parou diante dela. Era uma máquina que possuía uma garra de metal que as pessoas usavam para tentar agarrar um bicho de pelúcia. A pessoa só ganhava o brinquedo caso ele ficasse preso pela garra até uma abertura circula na extremidade da máquina.

Ela ficou olhando para os bichos com um ar de esperança e disse:

-Nunca consigo ganhar um bicho de pelúcia nestas máquinas, será que hoje vai ser diferente? - Disse Karla com uma voz triste, mas que demonstrava um pouco de esperança.

Não era a primeira vez que via Karla tentar conseguir um bicho de pelúcia naquela máquina. Ela mais uma vez tentou, agarrou o bicho, o elevou e, na metade do caminho, ele caiu. Vi a decepção em seu rosto e queria poder ajudá-la de algum modo.

Se eu pudesse sustentar o bicho de pelúcia como se minha mão estivesse embaixo dele, poderia impedir que ele caísse. Do mesmo modo que eu sabia como ler pensamentos, sabia agora como poderia fazer isso. Era estranha a sensação de, simplesmente, saber algo que eu nunca tinha aprendido. Como se sempre solvesse como fazer, apenas tivesse esquecido.

Karla estava desanimada e não parecia que iria tentar novamente, então disse para tentar incentivá-la:

-Não vai tentar de novo? Você pode ter sorte na segunda vez.

Karla olhou para mim ainda desanimada, deu um sorriso e, sem muita esperança, aceitou minha sugestão e tentou novamente.

Karla tentou pegar uma girafa e quando ela a elevou eu comecei a me concentrar, mas tentando não demonstrar com algum tipo de careta.

Ela não podia acreditar que finalmente tinha conseguido. Deu pulos de felicidade e abraçou, bem forte, eu e Tom ao mesmo tempo.

-Vamos continuar andando? Queria olhar alguns CDs de música – Disse Tom olhando para uma loja que estava próxima.
-Não! – Disse Karla enérgica – Agora tenho que aproveitar minha sorte e tentar de novo.
-De novo? – Eu disse com uma voz um pouco desanimada.

Karla tentou pegar agora um elefante azul e eu a ajudei novamente. Ela ficou muito impressionada com a sorte que estava tendo e tentou novamente. Pegando, com sucesso, um leão.

Fiquei pensando quando ela iria parar e se eu devia continuar ajudando. Quando ela se preparava para tentar pegar um hipopótamo roxo para aumentar o zoológico, dois homens a impediram.

-Esta máquina está com problemas e vai ser interditada agora. – Disse seriamente o homem que devia trabalhar no shopping.

Karla até tentou protestar, mas não obteve sucesso. Ela logo desistiu do protesto, pois já estava bastante feliz com seus animais coloridos e, aceitando a sugestão de Tom, nos chamou para ir à loja de CDs.

Antes de ir embora escutei de um dos homens:

“Impossível, ela esta programada para uma pessoa ter chance a cada quinze tentativas.”

Chegamos à loja favorita de Tom, a loja de CDs de música. Ele gostava muito de música, sabia tocar violão e estava aprendendo a tocar piano. Sempre quis aprender a tocar algum instrumento, mas, até hoje, só aprendi algumas poucas notas de violão que Tom me ensinou.

Foi Tom que me apresentou a nossa cantora favorita, Hikari. Curiosamente não entendíamos o que ela cantava, mas procurávamos traduções de suas músicas na internet. O verdadeiro motivo para gostarmos de suas músicas era o sentimento que ela conseguia passar, como se sua música fosse capas de tocar em nosso espírito.

Ficamos perambulando pela loja, escutando algumas músicas e decidindo se compraríamos algo ou não. Fiquei conversando com Tom sobre como seria legal ir a um show da Hikari e como era praticamente impossível ela vir fazer um show na nossa cidade.

Tom decidiu comprar o nome CD da Hikari, eu gostaria de ter comprado também, mas não tinha dinheiro suficiente no momento. Não comprei o CD, mas tinha certeza que o meu grande amigo Tom me emprestaria quando acabasse de escutar umas dez vezes ele.

Karla já nos esperava impacientemente na porta da loja, ela não havia encontrado nada que gostasse e nos chamava para ir embora. Já estávamos passando pela porta quando um estranho cartaz nos chamou a atenção.

Não entendíamos tudo que estava escrito no cartaz, mas entendemos que Hikari iria fazer um show hoje. Procuramos informações mais atentamente pelo cartaz e descobrimos que o show seria na sua cidade natal para comemorar dez anos de sua carreira.

Ficamos maravilhados com a notícia, mas, logo depois, percebemos que não poderíamos ir ao show porque era em outro país. Ficamos parados olhando para o cartaz e imaginando como seria. Ficaríamos satisfeitos se pudéssemos assistir ao seu show na televisão ou qualquer outra forma não presencial, o importante era sentir como seria ir a um show dela ao vivo.

Então, como antes, me ocorreu uma idéia. Não uma simples idéia, mas uma idéia que, provavelmente, apenas eu poderia ter. Fiquei muito empolgado com ela e estava com muita vontade de chegar em casa para testá-la.

-Por que esse sorriso no rosto? – Perguntou Tom desconfiado.
-Por nada, apenas sonhando acordado – Disse tentando disfarçar.

sábado, 11 de abril de 2009

Crítica: Dragonball Evolution

Sim, mas uma vez não vou postar uma história e sim falar deste filme que assisti hoje. Será que isso vai tornar-se uma tradição?

Dragonball Evolution é o filme que todos me diziam que era ruim, mas que eu tinha que ver com os meus próprios olhos, pois achava que não poderia ser tão ruim assim. E no final, o filme realmente era ruim, mas não pelos motivos que as pessoas, que não assistiram, achavam.

Não é pelas mudanças comparando com o original, nem pelo diretor, nem os efeitos especiais e nem pelos atores. O principal problema de Dragonball Evolution é seu roteiro.

Não reclamo de nem uma mudança que o filme tenha em relação à Dragon Ball, mas o roteiro forçado e sem um devido cuidado deixo Piccolo agindo como Dark Vader e sem fazer muita coisa no decorrer do filme. As incríveis e longas lutas de Dragon Ball deram lugar para alguns hadoukens e dois kame hame ha.

O filme teve cenas legais, uma pitada de humor e uns efeitos especiais bacanas. Mas a melhor luta de todo o filme não foi contra Piccolo e sim Goku contra os valentões do colégio.

Então os créditos do filme aparecem e eu penso “não foi tão ruim”, mas logo surge o gancho para um Dragonball Evolution 2 e eu solto uma grande gargalhada.

Tentarei descrever a cena:

Uma mulher aparece com uma solução com ervas para curar os ferimentos de alguém que está deitado em uma cama. Passando o pano na cabeça da pessoa misteriosa, ela olha para a mulher e a câmera revela que é Piccolo.

Não perceberam? Deixe-me descrever assim:

Uma mulher vem curar os ferimentos de alguém que estava deitado de lado e que olha de repente para ela...

Ou melhor, assim:

Piccolo estava deitado de lado tendo um gostoso cochilo quando uma mulher o acorda e ele, assustado, olha para ela.

A cena foi tão cômica que detalhes como Piccolo não ter nem uma ferida na cabeça para ser curada passam despercebidos. Detalhe para o cobertor que estava sobre Piccolo... será que ele estava com frio?

Deixando claro, também, que os atores tem suas parcelas de culpa no filme. Com suas interpretações de filmes da "sessão da tarde".

Sinceramente espero que tenha um Dragonball Evolution 2, se já foi lançado o Efeito Borboleta 3, por que não um Dragonball Evolution 2? Melhorando o roteiro e Akira Toriyama acompanhando as filmagens, pode até sair um bom filme.

Se alguém que nunca assistiu Dragon Ball e que nunca ouviu falar de Goku assistir Dragonball Evolution perceberá que ele é um filme ruim e se ela sair correndo e não ver o gancho, ela concluirá e contará aos seus amigos que o filme, afinal, não era tão ruim assim.

sábado, 4 de abril de 2009

ilimitado, parte 6

Meus amigos estavam parados, o carro que atravessava o sinal vermelho estava parado, a velhinha que atravessava a rua, o mendigo que pedia esmola em outro sinal e até os três pombos que passavam por nossas cabeças. Todos estavam parados, exceto eu e meus pensamentos.

Então o céu começou a escurecer e a terra tremer. Logo veio trovões e um vento forte começou a soprar. E do alto veio uma voz assustadora que disse:

-Está com medo humano?

Realmente não sabia o que dizer. Tudo parecia uma cena de filme e, inexplicavelmente, disse:

-Não.
-Bom. – Respondeu a voz.

Um raio caiu bem próximo de mim e dele surgiu um ser moreno com cabelos assanhados que disse:

-Tam dam! – Exclamou com empolgação enquanto fogos de artifício explodiam no céu. E então conclui, estava sonhando.
-Está vendo? O importante é ter uma entrava empolgante, o importante é a primeira impressão. O que adianta tantos poderes e não ter uma entrada triunfal? –Disse, rapidamente e com empolgação, o homem diante de mim.
-E quem seria você? – Perguntei. Se eu estava em um sonho, um dos mais estranhos que eu me lembrava, não havia motivos para ter medo.
-Um novo ilimitado nasce! – Continuou a falar, me ignorando completamente.
-Você está me escutando? – Perguntei com indignação.
-Então eu cheguei a tempo? Você não destruiu o mundo ou algo do tipo, não é? Uma vez, sem querer, um ilimitado destruiu um mundo e precisou de quase uma semana para colocar tudo no lugar. É complicado chegar em um tempo exato passando por diferentes dimensões sabia? – Fez uma pequena pausa olhando para meu rosto que demonstrava uma expressão vazia e depois continuou - Esqueci de me apresentar, pode me chamar de Chocolate. – Concluiu o falante homem.
-Chocolate? – Perguntei, realmente era o sonho mais estranho que eu me lembrava, não que eu me lembrasse de muitos sonhos.
-Sim! Chocolate a única substância que possui o mesmo delicioso sabor em todas as dimensões que já visitei. Eu serei o seu conselheiro jovem ilimitado.
-Conselheiro? Como assim ilimitado? – Perguntei um pouco confuso, ou melhor, mais confuso ainda.
-Cada pessoa é única verdadeiramente, mas sua existência se repete em outras dimensões. Nomes diferentes, empregos diferentes, pais diferentes, quem sabe até irmãos diferentes ou simplesmente um corte de cabelo diferente. As diferenças entre as existências podem ser tão grandes ou quase imperceptíveis. Mas em cada dimensão um ser não segue essa regra e se torna realmente único em todas elas. Esses seres foram em algum momento denominados de ilimitados por causa do que podem fazer e você meu jovem, é o mais novo ilimitado.
-Então eu posso parar o tempo? – Indaguei, ignorando quase que completamente o que ele acabara de falar.

Ele, imediatamente, com uma voz estridente que fez a terra tremer e eu, instintivamente, cobrir os ouvidos falou:

-Silêncio! A única regra que um ilimitado tem que seguir é nunca, jamais completar a frase “eu posso...”. Se alguém escutar, você nunca mais poderá fazer o que você disse. Você tem muita sorte que essa regra não se aplica quando um ilimitado escuta. Afinal, o que você pode fazer não é nem uma novidade para mim.
-Então eu sou algum tipo de mago? Tenho que dizer alguma palavra mágica? Que sonho maluco estou tendo.
-Mago? Em todos esses anos eu não presenciei uma real magia. Não somos magos, você precisa entender o que está fazendo, você nunca poderá fazer algo que não entende. – Falou com uma voz irritada e, depois de uma breve pausa, deu um sorriso, me segurou e voamos para muito alto.
- Não! – Foi a única palavra que consegui pronunciar antes de pararmos. Estávamos bem alto, passando um pouco do topo de um prédio que estava próximo.
-Será que você já sabe voar? – Disse seriamente antes de me soltar.

Dizem que quando está na eminência de morrer você ver sua vida inteira passando por seus olhos, mas eu não via nada além do chão se aproximando. Então tive um pensamento que me assustou bastante, não poderia ser um sonho. Eu já deveria ter acordado e se não é um sonho, então vou morrer.

-É, você não sabe voar ainda. – Disse Chocolate quando me segurava, e logo me soltava, há um metro do chão.
-Você está louco? Você quer me matar? – Exclamei sem muito fôlego.
-Não acha que está sonhando? Como poderia ti matar? E você não pode morrer tão facilmente.
-Não estou sonhando, já percebi isso. – Parei por um segundo para refletir sobre a sua resposta e continuei – Sou imortal? – Disse ainda sem saber se entendi realmente o que ele dissera.
-Claro que não. Você pode morrer como qualquer outra pessoa, mas, dependendo de sua criatividade, você pode sobreviver em ocasiões que normalmente uma pessoa morreria. Quem sabe se cortarem a sua cabeça... bem, nunca se sabe.

Chocolate ficou calado por um momento olhando para o meu rosto pensativo que tentava processar tudo que ele dizia e continuou:

-Tchau.

Imediatamente voltei do meu estado pensativo e, com uma voz exaltada, disse:

-Como assim? Você aparece e me diz que eu sou um “ilimitado”, me diz que eu tenho poderes, quase me mata e simplesmente vai embora? Não vai me dizer que “com um grande poder vem uma grande responsabilidade”? Que eu tenho uma importante missão para salvar a humanidade? Que eu tenho que lutar pela justiça? Que eu tenho que me tornar um super-herói? – Acho que eu exagerei um pouco.
-Não. Não sou seu pai e sim seu conselheiro. Você decide o que vai fazer com seus poderes. O meu conselho é que você faça o que achar melhor, mas realmente aconselho há não destruir o mundo e, principalmente, a dimensão. Porque se fizer isso você vai ter problemas.
-Por que eu destruiria o mundo?
-Ficarei de olho em você jovem ilimitado. Lembre-se da regra e decida-se. – Disse-me antes de desaparecer em um grande clarão que veio seguido de um barulho forte.
-Então? O que acha? – Disse Karla olhando para mim.

O tempo voltou a correr. O carro que passava no sinal vermelho quase acertou a velhinha que atravessava a rua, o mendigo conseguiu algumas moedas no outro sinal e os três pombos voavam para longe. Meus amigos agora estavam se movendo e se perguntavam o motivo de eu estar parado olhando para o nada.

-Não seria bom comer logo um sanduíche?

Continuamos andando em direção ao shopping. Estava com um pouco de fome, mas com muita vontade de experimentar e descobri o que eu poderia fazer com esses poderes. Chocolate me deixou livre, então acho que tenho que me divertir.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Comentário: Slumdog Millionaire

Farei agora uma breve exceção e não postarei uma história e sim um comentário sobre o filme Slumdog Millionaire(Quem quer ser um milionário).

Acho que, humildemente, percebi o porque desse filme ter ganho o Oscar de melhor filme. A história. Não importa quantos milhões de dólares sejam gastos em um filme, nada substitui o velho bom roteiro.

Os que já viram o filme perceberam que todo o que foi feito nele poderia ter sido feito em um filme brasileiro. Não existe no filme grandes efeitos especiais e CGs. Todo o mérito do filme está em sua história (Claro que não estou desmerecendo a direção, atores, etc).

Slumdog Millionaire passa uma mensagem, demonstra uma realidade, esta que ja foi vista ou, pelo menos, percebida por muitos. A história é uma ficção, mas reflete a realidade. Um pouco também, por que não, no Brasil.

Para mim, Slumdog Millionaire vai entrar para lista de filme que acho que todos deveriam assistir. Nesta lista está também The Curious Case of Benjamin Button (O Estranho Caso de Benjamin Button) e August Rush (O Som do Coração), filme este que se quem assistir gostar realmente de música, será tocado em sua alma.

Então deixo aqui registrado meu breve e humilde comentário.

PS: E, não sei porque, ainda fico achando que a resposta certa era C.

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

ilimitado, parte 5

Minha história começa com uma corrida.

Três, dois, um... vai!

Correndo com toda a minha força. Correndo e chegando perto do final. E lá estavam todos gritando e, em especial, estava ela gritando o meu nome e torcendo por mim. Mais uma competição anual de equipes do colégio estava próxima do fim e eu, finalmente, iria ganhar nesta categoria. Seria um ótimo presente para o meu aniversário de dezessete anos que já havia passado, mas ainda estava na época de ganhar presentes.

Infelizmente não era verdade. Ela, Ângela, estava realmente gritando e torcendo, não para mim, para o seu namorado, Ricardo, que, inevitavelmente, estava exatamente ao meu lado e avançando.

Treinei muito, na semana anterior, para esta corrida, mas não importava, pois Ricardo, com seu porte atlético, sempre vencia e se, por acaso, tirasse segundo lugar, eu seria o terceiro. E, na linha de chegada, ele ganhou e eu tirei segundo lugar. Não é uma colocação ruim, verdadeiramente já fiquei em posições piores, mas nunca consegui ultrapassá-lo.

Então vieram todas as pessoas da arquibancada saldar os competidores. A maioria, logicamente, estava parabenizando o campeão, mas logo recebi meus parabéns:

-Não foi desta vez, mas foi uma colocação melhor do que no ano passado, não? – Disse o meu amigo de infância, Tom.
-Parabéns! Tirei fotos bem legais! – Disse Karla alegre e sempre do seu jeito explosivo e um pouco maluco.

Geralmente nós três estávamos juntos. Conheci Tom há muitos anos atrás, no dia que eu, criança, ainda era novato na escola e Karla, anos depois, transferida de outro colégio. Verdadeiros amigos e companheiros dos momentos felizes e dos nem tão gloriosos assim.

Recebi outros parabéns que não sabia bem de onde viam por causa da multidão.

Logo fomos para a segunda competição que nosso grupo iria participar. Karla era, estranhamente, muito boa em esgrima. Acho que ela poderia ser descendente dos três mosqueteiros, ou algo do tipo, mas realmente ela era muito boa.

Apenas uma garota poderia derrotá-la, minha Monalisa ou, quem sabe, minha Capitu, Ângela. Karla enfrentaria Ângela na final de esgrima e eu não sabia para quem torcer. Minha dúvida não seria muito importante, pois assim que a competição começou meu celular tocou.

-E então meu filho, como foi? – Era minha mãe que, misteriosamente, sabia os momentos certos para me ligar. Talvez tivesse um sexto sentido de mãe para essas coisas.
-Tirei segundo lugar mãe. – Falei um pouco decepcionado.
-Parabéns meu filho! Você melhorou bastante! Espere um segundo.
-Filho! Segundo lugar, parabéns! – Agora era o meu pai falando explosivamente.

Agora os dois falavam juntos e não compreendi muito bem o que falavam, mas entendi no final que precisavam desligar por algum motivo que, também, não entendi.

Voltei minha atenção para a competição, vi Karla ganhando e, junto com Tom, fui parabenizá-la. Indo em direção a ela, passei por Ângela e soltei um leve – parabéns – e ela me respondeu:

-Obrigado Jeffrey.

Foi como se um anjo dissesse o meu nome e me arrepiei. Nunca perguntei o motivo para meus pais me darem esse nome. Acho que não deve ser um nome muito comum, pois nunca encontrei, pessoalmente, outro com o mesmo nome.

-Vamos comemorar! – Disse Tom bem animado.

Comemorar, no estado que eu e Karla estávamos, só poderia ser em um lugar, A Esquina. Como o nome sugere, era um lugar que ficava em uma esquina, espremido entre uma casa amarela e outra azul, e, por sorte, se localizava no próximo quarteirão do colégio.

A Esquina era um lugar comumente freqüentado por alunos de escolas próximas e por adolescentes que moravam perto do local. A comida não era de muita qualidade, apenas vendia salgados, refrigerantes e doces. Não estávamos preocupados com a comida, íamos, principalmente, para jogar jogos eletrônicos de luta.

Tom e eu éramos bons nesse tipo de jogo, mas não invencíveis. Jogamos, comemos e nos divertimos muito, mas não podíamos demorar o tanto que queríamos, pois, no dia seguinte, teríamos a final da competição do colégio.

Fomos para a parada de ônibus, mas, infelizmente, cada um tinha que pegar um ônibus diferente para poder chegar a sua casa e o meu foi o último a aparecer.

Chegando em meu lar, que ficava no terceiro andar em um baixo prédio branco com verde, tomei banho e, cansado, dormi.

No dia seguinte, no colégio, me encontrei com Tom antes de começar as partidas finais de xadrez:

-Boa sorte Jeffrey! – Disse Tom com uma voz bem animada.
-Boa sorte para você também Tom. Espero que nos enfrentemos na final.

A final de xadrez era uma verdadeira maratona. Várias partidas aconteciam ao mesmo tempo no ginásio e como era um jogo que exigia concentração, silêncio e era um pouco parado, normalmente, não havia muitas pessoas acompanhando.

Ricardo não participava das competições de xadrez, provavelmente por preferir a competição de natação que acontecia, ao mesmo tempo, na piscina do colégio. Gostava de natação, mas preferi, neste ano, competir em xadrez.

O tempo foi passando e a partida final estava se aproximando. Tom e eu estávamos chegando à final, mas, na partida que decidiria os dois finalistas, Tom perdeu e eu consegui ganhar na minha. Foi sorte, acho, mas estava na final.

Não me lembrava do nome de meu adversário, mas conhecia sua fama de ótimo jogador de xadrez. Ele era conhecido como um dos melhores jogadores de xadrez do colégio e nunca conheci alguém que tivesse ganhado dele.

A partida é iniciada. Não sabia se já havia passado minutos ou horas, mas, com certeza, seria bom saber o que ele estava pensando.

“Isso, deixa o cavalo ali e na próxima será xeque-mate.”

Escutei uma voz dizendo uma frase repetidamente e estava ficando com vontade de pedir silêncio. Era uma voz que vinha de perto, mas não conseguia identificar sua origem. Com o aviso da voz misteriosa eu percebi o erro que estava cometendo e o concertei.

“Não! Podia ter ganhado agora.”

Quando alguém começa a escutar vozes estranhas na cabeça é porque está começando a ficar louco, não? Poderia ser um tipo de brincadeira, mas realmente estava começando a considerar que a voz vinha de meu adversário ou estava começando a ficar louco.

“Meu cabelo está coçando.”

Meu adversário coçou a cabeça. Não poderia ser coincidência, realmente estava ouvindo o seu pensamento. E em um momento como este poderia facilmente achar que ganharia a partida, mas o ocorrido me deixou desconcentrado e a perdi.

Recebi os comprimentos de meu adversário, logo os de Tom e, depois de alguns minutos, nos encontramos com Karla na cerimônia de premiação dos grupos.

Tiramos o terceiro lugar. A equipe de Ângela tirou segundo e a de meu adversário de xadrez tirou o primeiro lugar.

Karla, Tom e eu fomos em direção ao shopping para relaxar. No caminho, Karla e Tom ficaram discutindo o que faríamos primeiro quando chegássemos lá e perguntaram a minha opinião. Não importava para mim, no momento, o que iríamos fazer primeiro, mas respondi:

-Não seria bom comer logo um sanduíche?

Não estava preocupado com o que iria comer ou fazer quando chegássemos ao shopping e, naquele momento, nem mesmo com a possibilidade de ler pensamentos, pois percebi que tudo estava parado.

sábado, 3 de janeiro de 2009

ilimitado, parte 4

Lá estava ele parado, com sua roupa fora do tempo, admirado com tudo ao seu redor.

-É você? - Me perguntou, demonstrando que ainda era inexperiente.
-Sim, mas o que está fazendo aqui?
-Vim pedir seu conselho.
-Conselho?
-Sei que é uma decisão minha. Muitos escolhem a neutralidade, mas eu quero fazer diferente. Eu quero tentar melhorar o mundo. - Disse-me com uma voz confiante.
-Sim, é sua decisão. Eu escolhi não interferir, mas a escolha é totalmente sua. Apenas não se arrependa das escolhas tomadas.
-Este é o seu conselho? - Falou decepcionado.
-Você está em sua primeira vida?
-Sim.
-Então viva ela. Você, acima de tudo, é humano, cometeu e cometerá erros. Assim é a vida e todos, até os que não precisão se preocupar com o tempo, precisam vive-la.

E então sorrindo disse - obrigado - e voltou para o seu tempo.

Nunca achei que conheceria meu sucessor e nunca pensei que teria um. Sei que eu não sou o primeiro, mas agora sei que não serei o último.

Almocei, tive mais uma aula e fui para minha casa que ficava alguns quarteirões da universidade. Chegando a minha casa, tomei banho e liguei o rádio. A guerra era o assunto principal e adormeci com tal assunto.

Acordei com uma perturbação. Algo que nunca tinha sentido antes. Como se uma parte do mundo tremesse e milhares de vozes alegres dessem lugar ao silêncio. Esta perturbação vinha de muito longe e fui, imediatamente, para o lugar de origem dela.

Uma estranha nuvem estava no céu e ao seu redor escombros do que antes existia ali. Vi cinzas, esculturas humanas, mortos e semimortos por toda a parte. Não acreditei no que meus olhos me mostravam.

Quem poderia ter feito isso? Seria possível que alguém ou algo possa ter vindo para o meu mundo? Perguntas que poderiam ser respondidas pelo avião que avistei no céu.

Li a mente do piloto e ele também estava assustado. Descobri também algo que não imaginei. O responsável era humano.

Pensei que tinha me acostumado com a guerra. Mas nunca, em todas as guerras que participei, presenciei tão horrendo cenário e também nunca tinha lido sobre algo tão devastador e covarde.

Então uma informação me assustou ainda mais. Haverá outro ataque.

Então eu ficarei olhando tamanha devastação acontecer novamente? O que farei? Poderia impedir, mas prometi que nunca mais interferiria nas ações do homem.

Meu sucessor quer mudar o mundo. Será que ele presenciou tamanha destruição em seu tempo? Será que eu deveria interferir mais uma vez na história? Tantas dúvidas.

Fui para a lua e lá, pensando, permaneci dois dias.

Me decidi. Não tinha certeza de minha decisão, mas esta era a minha decisão.

Chegou o dia do segundo ataque. Lá estava o avião com sua bomba da morte. Ele a soltou e eu fiz o que achava correto. Não iria interferir, mas não deixarei que eles sofram em sua morte.

Deixei inconsciente todos os que seriam atingidos. Imóveis, sua última lembrança foi o avião que passava no céu.

Mortos, todos mortos. Ver o resultado da explosão não se compara com presenciar suas mortes.

Teria tomado a decisão correta? Não, provavelmente não. Sou covarde, pois temo minhas decisões e suas conseqüências.

Olhei para o futuro. Vi mais guerras, mais mortes e fome. Vi ações sem, aparente, sentido. O mundo estava mudando e, aparentemente, não estava preparado para essas mudanças.

E então me lembrei do meu sucessor. Estava claro, para mim, o motivo de seu surgimento e a decisão que iria tomar.

Então falei para eles:

-Irmãos que não conheço aqui me despeço. Mas antes de descobrir algo que, até nós, não sabemos, peço um último favor. Meu mundo esta mudando e temo como o meu sucessor se comportará nele. Por favor, enviem alguém para aconselhá-lo quando sua jornada iniciar.

Soube imediatamente, por instinto, que meu pedido foi escutado e aceito. Agora minha longa jornada poderá terminar. Deixarei que o novo mundo que inicia seja também o berço de um novo ser ilimitado.