segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

ilimitado, parte 2

Bomba...

Realmente não gostava de brincar de estátua. Poderia aproveitar o tempo imóvel para pensar e refletir, mas já pensei e refleti bastante por toda a minha vida.

Imóvel, alguns cortes e o inconfundível fedor de morte. Então vi David do lado de seu último ato como vivo. Poderia salva-lo, é verdade, mas a experiência já mostrou que o resultado do salvamento não é positivo.

Andei até David, peguei a sua carta inacabada, agora com um pouco de sangue, e resolvi fazer um último favor ao meu falecido amigo.

Sempre é uma dúvida a maneira certa de chegar a algum lugar. Com certeza nunca é bom quando me vêem chegando. Minhas chegadas poderiam ser mais fáceis se eu pudesse ficar invisível, mas, infelizmente, perdi esse poder a muito tempo atrás, na época que eu poderia chamar de primeira vida.

Recuperando-me fisicamente e abrindo uma fenda, cheguei ao meu destino de madrugada. Cheguei à singela casa de dois andares, com cores desbotadas e um estranho ar de esperança. Coloquei a carta na caixa de correio e fui até a janela do segundo andar tentar descobrir como se parecia a amada de meu amigo, sim, estava curioso.

Olhando pela janela, ajudado pela luz do luar, a vi. Realmente era linda, não a mais bela que já conheci, mas infelizmente não pude observá-la por muito tempo. Acho que pode ter sentido minha presença ou apenas tinha um sono leve, mas infelizmente ela acordou.

Acordou assustada, me escondi, e saiu correndo, por algum motivo, para a porta. Parecia que sabia que tinha recebido mais uma carta de seu amado. Infelizmente não pude ficar para ver sua reação e fui para o lugar que chamei de casa, a lua.

Realmente tinha outras casas na Terra, mas era um pouco complicado. Sempre tinha que inventar que eu era um sobrinho, tio, primo, irmão ou algo do tipo do dono da casa. Afinal, apesar de poder mudar minha idade física, isso exigia concentração e cuidado. Mas mesmo assim nunca consegui viver na mesma casa muitos anos.

A lua, único lugar que eu não seria incomodado. Nela é onde guardo as lembranças dos meus muitos anos de vida. A foto de meus pais, do meu segundo amor, do terceiro e quarto.

Não guardo a foto do meu primeiro amor. Com ela foi que aprendi que devo manter o meu segredo até das pessoas que amo. Ainda lembro claramente a expressão que ela fez quando demonstrei que podia ficar invisível.

-Promete que não vai se assustar?
-Nada que você fizer poderá me assustar, eu ti amo! Lembra?
-Pois então... agora você esta me vendo e agora...

Aquela expressão de susto que logo mudou para medo.

- Viu? Eu posso ficar invisível!
-....
- O que foi?

Saiu correndo pela rua, fiquei assustado e fui atrás dela. Tive mais medo naquele momento do que quando descobri meus poderes, fiquei pensando que ela iria contar para todos e minha vida iria acabar. Então, por instinto, acho, quis apagar de sua memória tudo relacionado ao meu segredo e, no lugar, colocar uma memória falsa de uma discussão e que tínhamos acabado o relacionamento para sempre. E foi exatamente o que aconteceu.

Deixando memórias tristes no passado, resolvi voltar à universidade.

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