terça-feira, 6 de janeiro de 2009

ilimitado, parte 5

Minha história começa com uma corrida.

Três, dois, um... vai!

Correndo com toda a minha força. Correndo e chegando perto do final. E lá estavam todos gritando e, em especial, estava ela gritando o meu nome e torcendo por mim. Mais uma competição anual de equipes do colégio estava próxima do fim e eu, finalmente, iria ganhar nesta categoria. Seria um ótimo presente para o meu aniversário de dezessete anos que já havia passado, mas ainda estava na época de ganhar presentes.

Infelizmente não era verdade. Ela, Ângela, estava realmente gritando e torcendo, não para mim, para o seu namorado, Ricardo, que, inevitavelmente, estava exatamente ao meu lado e avançando.

Treinei muito, na semana anterior, para esta corrida, mas não importava, pois Ricardo, com seu porte atlético, sempre vencia e se, por acaso, tirasse segundo lugar, eu seria o terceiro. E, na linha de chegada, ele ganhou e eu tirei segundo lugar. Não é uma colocação ruim, verdadeiramente já fiquei em posições piores, mas nunca consegui ultrapassá-lo.

Então vieram todas as pessoas da arquibancada saldar os competidores. A maioria, logicamente, estava parabenizando o campeão, mas logo recebi meus parabéns:

-Não foi desta vez, mas foi uma colocação melhor do que no ano passado, não? – Disse o meu amigo de infância, Tom.
-Parabéns! Tirei fotos bem legais! – Disse Karla alegre e sempre do seu jeito explosivo e um pouco maluco.

Geralmente nós três estávamos juntos. Conheci Tom há muitos anos atrás, no dia que eu, criança, ainda era novato na escola e Karla, anos depois, transferida de outro colégio. Verdadeiros amigos e companheiros dos momentos felizes e dos nem tão gloriosos assim.

Recebi outros parabéns que não sabia bem de onde viam por causa da multidão.

Logo fomos para a segunda competição que nosso grupo iria participar. Karla era, estranhamente, muito boa em esgrima. Acho que ela poderia ser descendente dos três mosqueteiros, ou algo do tipo, mas realmente ela era muito boa.

Apenas uma garota poderia derrotá-la, minha Monalisa ou, quem sabe, minha Capitu, Ângela. Karla enfrentaria Ângela na final de esgrima e eu não sabia para quem torcer. Minha dúvida não seria muito importante, pois assim que a competição começou meu celular tocou.

-E então meu filho, como foi? – Era minha mãe que, misteriosamente, sabia os momentos certos para me ligar. Talvez tivesse um sexto sentido de mãe para essas coisas.
-Tirei segundo lugar mãe. – Falei um pouco decepcionado.
-Parabéns meu filho! Você melhorou bastante! Espere um segundo.
-Filho! Segundo lugar, parabéns! – Agora era o meu pai falando explosivamente.

Agora os dois falavam juntos e não compreendi muito bem o que falavam, mas entendi no final que precisavam desligar por algum motivo que, também, não entendi.

Voltei minha atenção para a competição, vi Karla ganhando e, junto com Tom, fui parabenizá-la. Indo em direção a ela, passei por Ângela e soltei um leve – parabéns – e ela me respondeu:

-Obrigado Jeffrey.

Foi como se um anjo dissesse o meu nome e me arrepiei. Nunca perguntei o motivo para meus pais me darem esse nome. Acho que não deve ser um nome muito comum, pois nunca encontrei, pessoalmente, outro com o mesmo nome.

-Vamos comemorar! – Disse Tom bem animado.

Comemorar, no estado que eu e Karla estávamos, só poderia ser em um lugar, A Esquina. Como o nome sugere, era um lugar que ficava em uma esquina, espremido entre uma casa amarela e outra azul, e, por sorte, se localizava no próximo quarteirão do colégio.

A Esquina era um lugar comumente freqüentado por alunos de escolas próximas e por adolescentes que moravam perto do local. A comida não era de muita qualidade, apenas vendia salgados, refrigerantes e doces. Não estávamos preocupados com a comida, íamos, principalmente, para jogar jogos eletrônicos de luta.

Tom e eu éramos bons nesse tipo de jogo, mas não invencíveis. Jogamos, comemos e nos divertimos muito, mas não podíamos demorar o tanto que queríamos, pois, no dia seguinte, teríamos a final da competição do colégio.

Fomos para a parada de ônibus, mas, infelizmente, cada um tinha que pegar um ônibus diferente para poder chegar a sua casa e o meu foi o último a aparecer.

Chegando em meu lar, que ficava no terceiro andar em um baixo prédio branco com verde, tomei banho e, cansado, dormi.

No dia seguinte, no colégio, me encontrei com Tom antes de começar as partidas finais de xadrez:

-Boa sorte Jeffrey! – Disse Tom com uma voz bem animada.
-Boa sorte para você também Tom. Espero que nos enfrentemos na final.

A final de xadrez era uma verdadeira maratona. Várias partidas aconteciam ao mesmo tempo no ginásio e como era um jogo que exigia concentração, silêncio e era um pouco parado, normalmente, não havia muitas pessoas acompanhando.

Ricardo não participava das competições de xadrez, provavelmente por preferir a competição de natação que acontecia, ao mesmo tempo, na piscina do colégio. Gostava de natação, mas preferi, neste ano, competir em xadrez.

O tempo foi passando e a partida final estava se aproximando. Tom e eu estávamos chegando à final, mas, na partida que decidiria os dois finalistas, Tom perdeu e eu consegui ganhar na minha. Foi sorte, acho, mas estava na final.

Não me lembrava do nome de meu adversário, mas conhecia sua fama de ótimo jogador de xadrez. Ele era conhecido como um dos melhores jogadores de xadrez do colégio e nunca conheci alguém que tivesse ganhado dele.

A partida é iniciada. Não sabia se já havia passado minutos ou horas, mas, com certeza, seria bom saber o que ele estava pensando.

“Isso, deixa o cavalo ali e na próxima será xeque-mate.”

Escutei uma voz dizendo uma frase repetidamente e estava ficando com vontade de pedir silêncio. Era uma voz que vinha de perto, mas não conseguia identificar sua origem. Com o aviso da voz misteriosa eu percebi o erro que estava cometendo e o concertei.

“Não! Podia ter ganhado agora.”

Quando alguém começa a escutar vozes estranhas na cabeça é porque está começando a ficar louco, não? Poderia ser um tipo de brincadeira, mas realmente estava começando a considerar que a voz vinha de meu adversário ou estava começando a ficar louco.

“Meu cabelo está coçando.”

Meu adversário coçou a cabeça. Não poderia ser coincidência, realmente estava ouvindo o seu pensamento. E em um momento como este poderia facilmente achar que ganharia a partida, mas o ocorrido me deixou desconcentrado e a perdi.

Recebi os comprimentos de meu adversário, logo os de Tom e, depois de alguns minutos, nos encontramos com Karla na cerimônia de premiação dos grupos.

Tiramos o terceiro lugar. A equipe de Ângela tirou segundo e a de meu adversário de xadrez tirou o primeiro lugar.

Karla, Tom e eu fomos em direção ao shopping para relaxar. No caminho, Karla e Tom ficaram discutindo o que faríamos primeiro quando chegássemos lá e perguntaram a minha opinião. Não importava para mim, no momento, o que iríamos fazer primeiro, mas respondi:

-Não seria bom comer logo um sanduíche?

Não estava preocupado com o que iria comer ou fazer quando chegássemos ao shopping e, naquele momento, nem mesmo com a possibilidade de ler pensamentos, pois percebi que tudo estava parado.

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